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Vade Mecum Espírita

Regeneração da Humanidade


Regeneração da Humanidade

Da obra Obras Póstumas - Segunda Parte página 321

        Os acontecimentos se precipitam com rapidez. Já não dizemos mais os tempos estão próximos. Falamos agora: os tempos chegaram.

          Não entendam nessas palavras a perspectiva de um novo dilúvio, nem um cataclismo, nem uma perturbação geral. Convulsões parciais do globo aconteceram em todas as épocas e ainda se produzem, porque fazem parte de sua constituição e não são os sinais.

          Entretanto, tudo o que está predito no Evangelho deve se cumprir e se cumpre neste momento, como mais tarde vocês reconhecerão. Mas tomem os sinais anunciados como figuras, das quais é preciso apreender o espírito e não ao pé da letra. Todas as Escrituras encerram grandes verdades, sob o véu da alegoria. Os comentadores se prendem à letra, por isso se enganam. Faltou-lhes a chave para compreender o sentido verdadeiro. Essa chave está nas descobertas da Ciência e nas leis do mundo invisível, que o Espiritismo acaba de nos revelar. De agora em diante, com a ajuda desses novos conhecimentos, o que era obscuro torna-se claro e inteligível.

          Tudo segue a ordem natural das coisas e as leis imutáveis de Deus não serão subvertidas. Não se verão nem milagres, nem prodígios, nem nada de sobrenatural, no sentido comum que se dá a essas palavras.

          Não olhem para céu, à procura de sinais precursores, porque não verão nada. E aqueles que lhe disserem que sim, estarão iludindo-os. Mas olhem em torno de vocês, entre os homens, é aí que encontrarão os sinais.

          Vocês não sentem uma espécie de vento que sopra sobre a Terra e agita os Espíritos?  O mundo está em espera, como que preso a um vago pressentimento da aproximação de uma tempestade.

          Entretanto, não acreditem no fim do mundo material. A Terra progrediu, a partir de sua transformação, deve progredir ainda mais e de forma alguma ser destruída. Mas a Humanidade chegou a um de seus períodos de transformação e a Terra vai elevar-se na hierarquia dos mundos.

          Então, não é o fim do mundo material que se prepara, mas o fim do mundo moral: é o velho mundo, o dos preconceitos, do egoísmo, do orgulho e do fanatismo que desmorona. Cada dia leva consigo alguns destroços. Tudo acabará com a geração que se vai, e a nova levantará o novo edifício que as gerações seguintes consolidarão e completarão.

          De mundo de expiação, a Terra será chamada a se tornar um dia um mundo feliz e habitá-la será uma recompensa, em vez de ser uma punição. Aqui, o reino do bem deve suceder o reino do mal.

          Para que os homens sejam felizes na Terra, é preciso que ela seja povoada por bons Espíritos, encarnados e desencarnados, que só desejam o bem. Quando chegar esse tempo, uma grande emigração se fará entre os que a habitam. Aqueles que praticam o mal pelo mal e não são tocados pelo sentimento do bem serão indignos da Terra transformada e serão excluídos, porque trariam de novo para cá o engano e a confusão e seriam um obstáculo ao progresso. Expiarão seu endurecimento em mundos inferiores, para onde levarão seus conhecimentos e terão como missão fazer esses mundos avançarem. Serão substituídos na Terra por Espíritos melhores, que farão reinar a justiça, a paz, a fraternidade.

          A Terra, já dissemos, não deve ser transformada por um cataclismo que aniquilará de repente uma geração. A geração atual desaparece gradualmente e a nova a sucederá da mesma forma, sem que nada seja mudado na ordem natural das coisas. Então, tudo acontecerá aparentemente como sempre, com uma única diferença, mas que é capital: uma parte dos Espíritos que encarnam aqui não encarnará mais. Em cada criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado, com tendência para o mal, virá um Espírito mais avançado e com tendência ao bem. Trata-se, então, mais de uma nova geração de Espíritos do que de uma geração corporal. Assim, aqueles que esperavam ver a transformação se operar por efeitos sobrenaturais e maravilhosos ficarão decepcionados.

          A época atual é de transição. Os elementos das duas gerações já se misturam. Quem estiver de fora assistirá à partida de uma e à chegada da outra, e cada uma já está assinalada no mundo pelas características que lhes são próprias.

          As duas gerações que se sucedem  têm ideias e pontos de vista opostos. Pelas disposições morais, mas, sobretudo, pelas intuitivas e inatas, é fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo.

          A nova geração deve fundar a era do progresso moral e se distingue por uma inteligência e uma razão geralmente precoces, reunindo ao sentido inato do bem crenças espiritualistas, o que é o sinal indubitável de um certo grau de adiantamento anterior. Não será composta exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas por aqueles que, tendo já progredido, estão predispostos a assimilar todas as ideias progressistas e aptos a ajudar o movimento regenerador.

          Ao contrário, o que distingue os Espíritos atrasados é, antes de tudo, a revolta contra Deus, pela negação da Providência e de todo poder superior à Humanidade. Depois, é a propensão instintiva para as paixões degradantes, pelos sentimentos antifraternais de orgulho, de ódio, de inveja, de cupidez, enfim, a predominância do apego por tudo o que é material.

          É desses vícios que a Terra deve ser purgada, pelo distanciamento daqueles que se recusam a melhorar, porque são incompatíveis com o reino da fraternidade e fazem sofrer os homens de bem. A Terra se libertará deles e os homens caminharão sem entraves para o futuro melhor que lhes está reservado aqui mesmo, como recompensa de seus esforços e de sua perseverança, esperando que uma depuração ainda mais completa lhes abra a entrada de mundos superiores.

          Por essa emigração de Espíritos, não se espere que todos os Espíritos retardatários sejam expulsos da Terra e relegados a mundos inferiores. Muitos cederam à prática das circunstâncias e dos exemplos, sua aparência era pior que seu conteúdo. Uma vez retirados da influência da matéria e dos preconceitos do mundo corporal, a maioria verá as coisas de um modo bem diferente do que lhes parecia em vida, como vocês já viram vários exemplos. Nesse processo, serão ajudados por Espíritos benevolentes, que se interessam por eles e se apressam a esclarecê-los e a mostrar-lhes o falso caminho que seguiram. Com suas preces e exortações vocês mesmos podem contribuir para a melhora deles, porque existe solidariedade perpétua entre os mortos e os vivos.

          Assim, esses Espíritos poderão voltar e ficarão felizes por isso, porque essa volta será uma recompensa. Não importa o que foram nem o que fizeram, se estiverem animados por melhores sentimentos! Longe de serem hostis à sociedade e ao progresso, serão auxiliares úteis, porque pertencerão à nova geração.

          Só haverá exclusão definitiva para aqueles Espíritos essencialmente rebeldes, para aqueles que o orgulho e o egoísmo, mais que a ignorância, tornam surdos à voz do bem e da razão. Mas mesmo estes não estão condenados a uma inferioridade perpétua e virá um dia em que  repudiarão seu passado e abrirão os olhos para a luz. Orem, então, por esses endurecidos, para que melhorem enquanto ainda há tempo, porque se aproxima o dia da expiação.

           Infelizmente, a maioria, desconhecendo a voz de Deus, persistirá em sua cegueira e sua resistência marcará, por terríveis lutas, o fim de seu reinado. Extraviados, correrão para a própria perda, atingirão a destruição que produzirá muitos flagelos e calamidades, de forma que, sem saber, apressarão o advento da era da renovação.

          E, como se a destruição não caminhasse suficientemente rápida, se verá os suicídios se multiplicarem em uma proporção inédita, até entre as crianças. A loucura atingirá como nunca um número muito grande de homens que, mesmo antes da morte, estarão eliminados do mundo dos vivos. Esses são os verdadeiros sinais dos tempos. E tudo se cumprirá pelo encadeamento das circunstâncias, como dissemos, sem que nada transgrida as leis da Natureza.

          Entretanto, através da nuvem sombria que os cerca, no meio da qual ruge a tempestade, vocês já veem apontarem os primeiros raios da nova era! A fraternidade lança seus fundamentos a todos os pontos do globo e os povos se estendem as mãos. A barbárie se familiariza em contato com a civilização. Os preconceitos de etnias¹ e de seitas, que fizeram jorrar ondas de sangue, se vão extinguindo. O fanatismo, a intolerância, perdem terreno, enquanto que a liberdade de consciência se introduz nos costumes e se torna um direito. As ideias fermentam em toda parte. Enxerga-se o mal e procura-se o remédio, mas muitos caminham sem direção e perdem-se em utopias. O mundo está em um imenso trabalho de gestação, que dura cerca de um século. Nesse trabalho, ainda confuso, vê-se, entretanto, dominar uma tendência para certo objetivo: o da unidade e da uniformidade, que predispõem à fraternização.

          São ainda sinais dos tempos, mas enquanto os outros estão na agonia do passado, estes últimos são os primeiros choros da criança que nasce, os precursores da aurora que se verá levantar no próximo século, porque então a nova geração estará em plena força. Tanto quanto a fisionomia do século XIX difere da do século XVIII, em certos pontos de vista a fisionomia do século XX será diferente da do século XIX.

          Uma das características da nova geração será a fé inata. Não a fé exclusiva e cega, que divide os homens, mas a fé raciocinada, que esclarece e fortalece, que os une e os junta em um sentimento comum de amor a Deus e ao próximo. Com a geração que se extingue, desaparecerão os últimos vestígios da incredulidade e do fanatismo, igualmente contrários ao progresso moral e social.

          O Espiritismo é o caminho que conduz à renovação, porque derruba seus dois maiores obstáculos: a incredulidade e o fanatismo. Proporciona uma fé sólida e esclarecida, desenvolve todos os sentimentos e ideias que correspondem aos ideais da nova geração. Por isso, é inato e em estado de intuição no coração de seus representantes. A nova era o verá crescer e prosperar, pela força das coisas. Ele se tornará a base de todas as crenças, o ponto de apoio de todas as instituições.

          Mas, até lá, haverá muitas lutas ainda contra seus dois maiores inimigos: a incredulidade e o fanatismo que, coisa estranha, se dão as mãos para combatê-lo. Pressentem o futuro do Espiritismo e a ruína deles, por isso o temem, porque já o veem plantar sobre as ruínas do velho mundo egoísta a bandeira que deve aproximar todos os povos. Leem sua própria condenação, na máxima: fora da caridade não há salvação, porque é esse o símbolo da nova aliança fraternal proclamada pelo Cristo. Essa máxima se lhes apresenta como as palavras fatais do festim de Baltazar² No entanto, deveriam bendizer essa máxima, porque os garante contra todas as represálias, por parte dos que eles perseguem. Mas não: uma força cega os leva a rejeitar a única coisa que poderia salvá-los!

          Que poder terão contra a ascendência da opinião que os repudia? O Espiritismo sairá triunfante da luta, não duvidem, porque está nas leis da Natureza e por isso mesmo é imperecível. Vejam a multiplicidade de meios pelos quais a ideia se espalha e penetra em toda parte. Acreditem que esses meios não são casuais, mas providenciais. Aquilo que, num primeiro momento, pareceria prejudicial é exatamente o que ajuda sua propagação.

          Logo surgirão, entre os mais consideráveis e os mais acreditados, defensores da causa que se declararão abertamente, que apoiarão, com  a autoridade de seu nome e de seu exemplo, impondo silêncio aos detratores, porque ninguém ousará tratá-los como loucos. Esses homens o estudam em silêncio e se mostrarão quando chegar o momento propício. Até lá, é importante que eles se mantenham a distância.

          Vocês verão, em breve, as artes buscarem o Espiritismo como uma mina fecunda e traduzirem as ideias e os horizontes que ele descortina pela pintura, pela música, pela poesia e pela literatura. Foi-lhes dito que um dia haveria a arte espírita, como houve a arte pagã e a arte cristã, e é uma grande verdade, porque os maiores gênios se inspirarão na Doutrina. Logo, vocês verão os primeiros esboços e mais tarde chegarão à categoria que devem ter.

          Espíritas, o futuro é de vocês e de todos os homens de coração e devotados. Não tenham medo dos obstáculos, porque não existe nenhum que possa entravar os desígnios da Providência. Trabalhem sem descanso e agradeçam a Deus por tê-los colocados na vanguarda da nova falange. É um posto de honra, que vocês mesmo pediram e do qual é preciso tornar-se digno pela coragem, perseverança e devotamento.

          Felizes aqueles que sucumbirem nessa luta contra a força, mas a vergonha será, no mundo dos Espíritos, para aqueles que sucumbirem por fraqueza ou falta de energia. As lutas são necessárias para fortificar a alma. O contato do mal faz apreciar melhor as vantagens do bem. Sem as lutas, que estimulam as faculdades, o Espírito se deixaria levar a uma indolência nociva e sem avanço. As lutas contra os elementos desenvolvem as forças físicas e a inteligência e contra o mal desenvolvem as forças morais.
27 de abril de 1866. (Paris ? casa do Sr. Leymarie ? médium, Sr. L...)
 

(1) Ver Nota Explicativa no fim deste volume, página 355.

(2) Nota da tradução: Festim da Baltazar, referido em Daniel, capítulo 50, versículos 25 e seguintes.

Autor: Allan Kardec
Fonte: Obras Póstumas
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