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Mais uma vez a Imprensa!


Richard Simonetti lamenta em carta à revista Veja

 tom de deboche na reportagem sobre o filme Nosso Lar

 

 

RICHARD SIMONETTI

 

 

 

Carta para a revista VEJA – 01 09 2010

 

                        Senhor redator.

 

                        Como espírita, assinante dessa revista há muitos anos, lamento o tom de deboche que caracterizou sua reportagem sobre o filme Nosso Lar, o que, diga-se de passagem, também está presente em matérias sobre outras religiões. Nesse aspecto, VEJA é uma revista coerentemente debochada. Não respeita a crença de nenhum leitor.

                        Pior são os erros de apreciação sobre a Doutrina Espírita, revelando ignorância do repórter, uma falha perigosa, porquanto coloca em dúvida outras matérias e informações. Como saber se os responsáveis estavam preparados para escrevê-las, evitando fantasias e especulações?

                        Para sua apreciação, senhor redator, algumas “escorregadelas” do repórter:

 

a)       Grafa entre aspas o verbo desencarnar. Só teria sentido se ainda não houvesse sido dicionarizado. Por outro lado, noventa por cento dos brasileiros são espiritualistas, isto é, acreditam na existência e sobrevivência do Espírito. Este ser imortal desencarna, jamais morre. A minoria materialista, que acredita que tudo termina no túmulo, certamente terá surpresas quando “morrer”.

 

b)      Fala em cordilheira de ectoplasma onde se situaria Nosso Lar. De onde tirou isso? Ectoplasma é um fluido exteriorizado pelos médiuns para trabalhos de materialização. Os físicos, esses visionários cujas “fantasias” acabam confirmadas pela Ciência, falam hoje que há universos paralelos, que se interpenetram, semelhantes ao nosso. A partir daí não é difícil imaginar o mundo espiritual descrito por André Luiz como parte de um universo paralelo com seres e coisas semelhantes à Terra, feitos de matéria num outro estado de vibração, não um mundo “ectoplasmático”, mas de quinta-essência material. Nada de se admirar, portanto, que em cidades desse mundo existam pessoas com “uma rotina parecida com a dos vivos: comem, bebem, trabalham e moram em casas modestas ou melhorzinhas”. Espirituoso esse “melhorzinhas”. Imagina o repórter que o Espírito é uma fumaça sem forma, sem consistência, habitando um nada?

 

c)       Situa o aeróbus, um transporte coletivo que voa, como algo improvável. Menos mal que não tenha escrito impossível. De qualquer forma, ignora, certamente, que pesquisadores estão aperfeiçoando veículos dessa natureza, em alguns países, como solução para os problemas de trânsito e que no universo paralelo, o mundo espiritual, de matéria quinta-essenciada, é muito mais fácil resolver problemas relacionados com a gravidade. Ou, imagina que tudo flutua por lá?

 

d)      Diz jocosamente que “o visual da colônia dos espíritos de luz comprova: o brasileiro pode até se livrar do inferno, mas não escapa nem morto da arquitetura de Oscar Niemeyer. A cidade fantasmática de Nosso Lar é a cara de Brasília…” Não se deu ao trabalho de comparar datas e não percebeu que, mais apropriadamente, Brasília copiou Nosso Lar, visto que a cidade espiritual foi descrita por André Luiz em 1943, enquanto a construção de Brasília foi planejada e ocorreu no governo de Juscelino Kubistchek, de 1956 a 1961, inaugurada em 1960.

 

                        Quanto ao mais, seria recomendável aos repórteres de VEJA o benefício de um estudo acurado e sem prejulgamento do livro que deu origem ao filme, psicografado por esse atestado vivo de integridade e amor à verdade, que foi o médium Chico Xavier, para compreenderem qual é o objetivo dessa magistral obra, como resume o Espírito Emmanuel, no prefácio:

 

            André Luiz vem contar a você, leitor amigo, que a maior surpresa da morte carnal é a de nos colocar face a face com a própria consciência, onde edificamos o céu, estacionamos no purgatório ou nos precipitamos no abismo infernal; vem lembrar que a Terra é oficina sagrada, e que ninguém a menosprezará, sem conhecer o preço do terrível engano a que submeteu o próprio coração.

 


Esta carta foi objeto de uma resposta do colunista Lázaro Freire à Richard Simonetti.

>> Colunistas > Lázaro Freire

Resposta a Richard Simonetti (que rebatia a crítica de Veja ao filme Nosso Lar de André Luiz / Chico Xavier)
Publicado em: 13 de setembro de 2010, 13:19:20  -  Lido 2914 vez(es)
 

 

> Richard Simonetti rebate resenha de Veja de Nosso Lar
> Richard Simonetti lamenta em carta à revista Veja (suposto) tom de deboche

> na reportagem sobre o filme "Nosso Lar"

Richard Simonetti, em sua carta, assume um posicionamento fundamentalista e proselitista que não deveria combinar com o espiritismo, embora seja comum em braços mais radicais do cristianismo atual. O que o palestrante espírita toma como "deboche" é o simples fato de um repórter não considerar a crença alheia como "fato", empírico. Independentemente do alvo da crença, me parece mais um problema de "teoria do conhecimento" (epistemologia filosófica) do que de respeito à religião. O sagrado de um é inalienável bem subjetivo, mas não se transforma automaticamente em realidade objetiva do outro.

 

A carta é repleta de falácias, e lamentavelmente incentivou a uma onda nada caridosa de reações radicais partindo de espíritas menos esclarecidos. Vejamos alguns trechos:

> RICHARD SIMONETTI
> Carta para a revista VEJA - 01 09 2010
> Senhor redator.
> Como espírita, assinante dessa revista há muitos anos,
> lamento o tom de deboche que caracterizou sua reportagem sobre o
> filme " Nosso Lar ", o que, diga-se de passagem, também está
> presente em matérias sobre outras religiões.


A carta já abre com falácias. Não nutro simpatia pela postura editorial assumidamente parcial de Veja, mas convenhamos que uma revista semanal de informação não é - nem precisa ser - espírita, umbandista ou daimista. Melhor até que seja mesmo laica como o estado. É pouco relevante,
portanto, a condição de "espírita assinante". O fato da semana é a estréia de um filme; e sempre há comentários sobre as qualidades - ou pobrezas - cinematográficas nessas revistas.

 

O crítico de arte não precisa ser simpático a religião alguma para falar de cenários desenhados, atuações ruins, falhas de roteiro ou diálogos sem ritmo. O fato de uma revista não comungar das mesmas crenças não constitui "deboche" ou desrespeito. Simplesmente deixa a crença para o terreno da crença, não se misturando às ficções cinematográficas ou fatos da semana. Penso que mais desrespeito com o leitor (de outros credos e não credos) seria o contrário, o solicitado por Simonetti, caso uma revista laica adotasse rencarnação ou conceitos de qualquer religião como verdades universais.

> Nesse aspecto, VEJA é uma revista coerentemente debochada. Não
> respeita a crença de nenhum leitor.


Falta um pouco de filosofia e alteridade a este senhor Simonetti. Respeitar uma crença não é JAMAIS adotar como verdade dela como sendo também a minha. A confusão, como sempre, se estabelece ao postular que a inalienável "verdade" INTERNA, PSICOLÓGICA e SUBJETIVA experenciada pelo crente (a qual merece respeito sim em seu foro íntimo) tenha que ser automaticamente convertida em verdade EXTERNA, CIENTÍFICA e OBJETIVA do outro.

Um hindu acredita que Krishna era azul. Merece respeito, assim como alguns cristãos acreditam que Jesus tenha andado sobre as águas e que sua mãe fosse virgem. E que de fato tenha havido um censo de Herodes I no ano zero, ou seja, após sua morte e fim de seu reinado. Crença. Um espírita também acredita que as vozes internas que se comunicavam dentro da cabeça de Chico Xavier fossem fonte de autoridade suprema, inquestionáveis como a Búblia (na verdade, mais que ela), e oriundas de médicos mortos que relatam detalhes de cidades reais no "plano invisível". Isso PRECISA ser respeitado enquanto estes crentes - hindus, cristãos ou espíritas - mantiverem isso em seu inalienável domínio interno, e não exigirem que as revistas e a história reflitam suas crenças. Aliás, os mais lamentáveis capítulos da humanidade ocorreram justamente quando papas medievais ou ditadores contemporâneos exigiram que a história e publicações para os outros refletissem suas crenças internas.

 

Também é constitucional o direito de culto. Por exemplo, o repórter de Veja não deveria adentrar centros espíritas, ashrans e igrejas fazendo chacota. Isso, creio, não se extende a ponto de o proibirmos de ter suas opiniões silenciosas durante exibição de filme no circuito comercial. Mas fora dos templos sagrados e espaços privados, conforme bem esclarece Kant (O Que É o Iluminismo), não só o repórter PODE como DEVE dar a sua opinião pública, ter direito de concordar ou não, acreditar ou não na proposta que, por definição, tratava-se de ato de FÉ (ou seja, algo que me dá o mesmo direito de ACREDITAR quanto de NÃO acreditar). Se há direito de crer e de expressar em telas de cinema, há direito também de não crer e se expressar nas críticas de revistas - ou páginas como essa, que desconstroem questões subjacentes à filosofia, à psicanálise e à religião.

Portanto, a partir do momento que estes mesmos hindus, cristãos ou espíritas postulem que havia homens de pele azul na Índia real de 2000 AC, ou que as leis da Física e dados históricos não valiam na Palestina real do ano 30DC, ou que coloquem seus filmes em cinemas comerciais como ficção e diversão paga do circuito laico, passam a poder ser confrontados com a mesma arqueologia, história, física (ou crítica cinematográfica) sujeita a qualquer outro fato discernível pelo intelecto.

> Pior são os erros de apreciação sobre a Doutrina Espírita,
> revelando ignorância do repórter, uma falha perigosa, porquanto
> coloca em dúvida outras matérias e informações.


Aqui temos dois erros graves - e perigosos - do fundamentalismo espírita.
Primeiro, já dito, confunde a análise de um filme comercial e lucrativo (críticas estas presentes em todas as edições de Veja) como uma "apreciação" sobre a própria religião que o inspirou. Segundo e mais grave ainda, a intolerância religiosa do autor praticamente exige, nas entrelinhas, que repórteres
cinematográficos tivessem conhecer em detalhes uma "doutrina" religiosa espírita antes de fazer suas reportagens. Esta mesma federação dos espíritas sugere longos cursos para esta "doutrinação" e conversão ao Evangelho. EM outros termos, é o mesmo que pedir que apenas espíritas comentem o tema e o filme, e apenas de modo favorável; ou que matérias como essa tenham que ter a aprovação prévia da Federação Espírita, dos auto-entitulados instrutores da pura Doutrina.

É bom lembrar que esses mesmos espíritas proibiram o próprio
livro "Nosso Lar", escrito na década de 1940, por muito tempo. Consideravam o conteúdo de Chico Xavier, particularmente ESSE conteúdo, por demais fantasioso e distante da doutrina de Kardec (que nunca foi tão religioso e fundamentalista cristão quanto o braço brasileiro neocatólico de sua religião). Não é novidade quererem controlar, agora, até mesmo as críticas de filmes comerciais em veículos públicos e laicos de comunicação. Parece que não é sempre que o espírito evolui com o tempo.

> Como saber se os responsáveis estavam preparados para escrevê-las,
> evitando fantasias e especulações?


Ou seja, na visão deste doutrinador espírita, talvez alguém formado nos longos cursos evangélico doutrinários das federações espíritas tivesse melhor condição de escrever a matéria... Melhor ainda se a "crítica" do filme fosse ditada diretamente da assessoria de imprensa do Ministério da Comunicação de Nosso Lar. Nada contra, dentro dos preceitos de uma crença e religião. Entretanto, isso transformaria a revista em uma publicação espírita, voltada ao público ídem. Mas já há inumeras boas publicações deste tipo, eu mesmo colaboro com algumas (tenho colaborações e matérias de capa para a Revista Cristã de Espiritismo e Sexto Sentido, dentre outras). O Richard Simonetti também. Falando lá, respeitamos o público do lugar. Mas precisamos respeitar a alteridade de Veja também.

> Para sua apreciação, senhor redator, algumas "escorregadelas"
> do repórter:
> a) Grafa entre aspas o verbo desencarnar.
> Só teria sentido se ainda não houvesse sido dicionarizado.


Errado. Palavras do dicionário podem receber aspas. Por exemplo: Maria não
"pagou" o livro
, se eu quiser enfatizar as diversas interpretações possíveis para o uso do verbo pagar na frase em questão. Ou: Os corinthianos "choraram" a sua desclassificação. A ênfase no desencarnar deixa claro que trata-se de um eufemismo para "morreu". No contexto espírita, é fato ou talvez o termo politicamente correto. Entretanto, não é de uso universal. Mesmo que o dicionário acerte registrando o uso local e religioso do termo. Como o próprio Simonetti disse, se houvesse "desrespeito", seria à CRENÇA espírita. Ora, o dicionário não imputa aos outros as crenças que registra.

 

Note também que inúmeros filmes comerciais tratam de mundos do pós-morte, e não há nada de errado em dizer que o personagem "morreu" (antes de viver o cenário astral dos filmes). Entretanto, Nosso Lar pretende ser professoral, e de algum modo dá a entender que o "correto" (oura palavra de dicionário) seria dizer desencarnar. Bem, isso é certo na CRENÇA de um espírita e espiritualista, mas não é universal, e não pode ser imposto a todos como uma VERDADE final. Bem aplicadas, portanto, as aspas. Mas seriam desnecessárias se o repórter escrevesse numa publicação espírita.

> Por outro lado, noventa por cento dos brasileiros são
> espiritualistas, isto é, acreditam na existência e sobrevivência
> do Espírito.


Falacioso e sem fontes de comprovação. ALém de carecer de definição do que o autor tenta se apropriar como "espiritualista". Dá a entender, sofismaticamente, que (a) 90% dos brasileiros usariam o termo "desencarnar" ou deveriam (o que é falso) e também que (b) a suposta minoria que não crê deveria se submeter à crença majoritária - coisa que graças a Deus nem os católicos, protestantes e agnósticos (bem mais numerosos que os espíritas) não fazem.

> Este ser imortal desencarna, jamais morre.

Esta é uma frase afrimativa de crença. Coloca assim, como verdade única, careceria de fontes e comprovações. Pode ser a sua crença, pode ser até a minha crença, e a de muitos. Mas não pode sair do contexto de CRENÇA (segundo o filósofo Thomas Hobbes, uma preposição não comprovável que pode assumir valor verdadeiro ou falso, e que particularmente atribuo para mim a hipótese funcional de que seja verdadeiro).

> A minoria materialista, que acredita que tudo termina
> no túmulo, certamente terá surpresas quando "morrer".


Aqui há desrespeito e desinformação, talvez movida pela emotividade religiosa do momento proselitista.

Falta filosofia e alteridade ao dividir simplisticamente a humanidade em "espiritualistas" e "materialistas". Esta é uma visão maniqueísta, quase primária, e que até mesmo teologias cristãs um pouco mais elaboras não mais adotam . Não explicarei agora as inúmeras nuances das visões deístas, agnósticas, taoistas, imanencia X transcendência, Espinoza, Eckart, até mesmo Tomás de Aquino. Sugiro, talvez, ler os trabalhos de Derrida sobre Filosofia da Religião. Ou a pesquisa desses termos e nomes na internet. Já seria um começo.


O fato é que, parafraseando o que o próprio Simonetti disse ao repórter, talvez falte mesmo um pouco de conhecimento mínimo de história e filosofia da religião. É compreensível para um repórter cinematográfico, mas jamais para alguém como Simonetti que tenha assumido a função de porta voz, referência e instrutor de uma religião que atinge milhões. A função de "sacerdote" (mesmo que informal e involuntário) exige preparo.

Pior ainda, na frase acima, é a injustificável ameaça religiosa. Quem não concordar com o espiritismo é "materialista" (uma espécie de pecador), e, é claro, sofrerá as consequências por ter questionado o filme. A mesma tática foi usada contra filósofos na idade média, contra bruxas na inquisição, e contra meus pais e avós nas paróquias do interior do Brasil. Mas vem sempre a ameaça velada: "tudo bem, vá questionando, que no futuro você vai ver". Um tom de "estou sempre certo, não há debate". Mesmo que para isso eu tenha que esperar você morrer para eu vencer. Quanto diálogo e alteridade...

Troca-se agora a homilia pela preleção, a comunhão pelo passe, o paraíso por Nosso Lar, o pecado pelo "carma" - e, é claro, a ameaça de "sofrimentos" no umbral (o novo inferno ou purgatório) caso alguém ousar viver a vida fora dos ditames da religião. A tática terrorista que garante adeptos há milênios. Nos novos tempos, vende livros (Simonetti é autor espírita) e dá bilheteria.

> b) Fala em cordilheira de ectoplasma onde se situaria Nosso Lar.
> De onde tirou isso? Ectoplasma é um fluido exteriorizado pelos
> médiuns para trabalhos de materialização.


Neste ponto, concordo, o repórter usa um termo de senso comum, fora do contexto que espíritas usam. É um erro, mas não me parece tão grave assim. Parece que o autor da carta comemora isso como uma espécie de "falta" desclassificatória da reportagem.

> Os físicos, esses visionários cujas "fantasias" acabam confirmadas
> pela Ciência, falam hoje que há universos paralelos, que se
> interpenetram, semelhantes ao nosso.


Céus. Todas as fantasias são confirmadas pela ciência? A função desta é confirmar tudo, e não o contrário, buscar demonstrações empíricas sustentáveis para as HIPÓTESES?

TODOS físicos são visionários?
TODOS físicos falam de universos paralelos?
O fato de ALGUNS físicos postularem a POSSIBILIDADE de universos além do nosso legitima em detalhes Nosso Lar, especificamente? E ainda explica cientificamente as más atuações dos atores, as falhas de roteiro e adaptação, os cenários estereotipados e o tom professoral que narra doutrinariamente até mesmo aquilo que já desfila diante dos olhos do público?

Mesmo se algum físico fosse visionário e imaginasse EXATAMENTE isso, significaria que a forma oficial de comunicação seja aquela que você, com todo respeito, acredita? Isso deveria ser tomado como FATO numa revista semanal, apenas porque uma pessoa confiável e querida como o escritor religioso Chico Xavier ACREDITAVA que o autor de seu pseudônimo "André Luiz" fosse emanado de algum modo por vozes de outro mundo?

 

Alguém PODE acreditar nisso, desde que não exija que os OUTROS acreditem também. Quando rompe-se essa fronteira não tão tênue, temos fundamentalismo e proselitismo.

> A partir daí não é difícil imaginar o mundo espiritual descrito
> por André Luiz como parte de um universo paralelo com seres e
> coisas semelhantes à Terra, feitos de matéria num outro estado de
> vibração.


Céus 2. De fato, a partir das postulações hipotéticas da nova física subatômica, muitos esotéricos tem mesmo imaginado e fantasiado - com uma excessiva facilidade, concordo - mundos complexos e realidades religiosas bem maiores do que um bóson ou átomo onde as tais propriedades quânticas se aplicariam.

Mas COMO passamos da IMAGINAÇÂO para a existência? Ou do subatômico dos aceleradores de partículas para exigir que a CRENÇA na complexidade fictícia mostrada na película seja não só dado universal, como de um certo modo até (pseudo) "científico"?

Crenças merecem respeito. Mas a ciência e filosofia sérias, também. Um pouco mais de bom senso poderia trazer contribuições a estes dirigentes e palestrantes espíritas do milênio passado.

> c) Situa o aeróbus, um transporte coletivo que voa, como algo
> improvável. Menos mal que não tenha escrito impossível. De
> qualquer forma, ignora, certamente, que pesquisadores estão
> aperfeiçoando veículos dessa natureza, em alguns países, como
> solução para os problemas de trânsito e que no universo paralelo,
> o mundo espiritual, de matéria quinta-essenciada, é muito mais
> fácil resolver problemas relacionados com a gravidade.


Bem, aparelhos voadores, bem sabemos, não são impossíveis. Mais desnecessárias eram as camas voadoras, já que parecia que, em geral, as leis da gravidade eram respeitadas ou simuladas ali.

 

De todo modo, se me permite a brincadeira, fiquei com a impressão de que o "desencarnado" Celso Pitta já houvesse superfaturado um fura-filas por lá. Mas recebo agora a comunicação espiritual de que, na verdade, o candidato Levir Fidélis é que recebeu a inspiração de seu aerotrem diretamente de Nosso Lar.

 

Pior, em termos cinematográficos e não religiosos, é um certo estilo Os Jetsons, que as vezes é misturado com paisagens visivelmente desenhadas ao fundo, e não se faz esteticamente harmônico com outras renderizações de prédios no estilo apartamentos funcionais de Brasília. O resultado não resulta coerente ou verossímel, e o livro de Chico - ficção ou realidade - mereceria coisa muito melhor, ainda mais com este orçamento de 20 milhões.

> Ou, imagina que tudo flutua por lá?

 

Bem, o filme sugere que as camas, sim...  Embora as cadeiras, não.

 

> d) Diz jocosamente que "o visual da colônia dos espíritos de luz
> comprova: o brasileiro pode até se livrar do inferno, mas não
> escapa nem morto da arquitetura de Oscar Niemeyer. A cidade
> fantasmática de Nosso Lar é a cara de Brasília." Não se deu ao
> trabalho de comparar datas e não percebeu que, mais
> apropriadamente, Brasília copiou Nosso Lar, visto que a cidade
> espiritual foi descrita por André Luiz em 1943, enquanto a
> construção de Brasília foi planejada e ocorreu no governo de
> Juscelino Kubistchek, de 1956 a 1961, inaugurada em 1960.


Bem, o fato de Brasília ser posterior ao livro Nosso Lar PROVA que a capital projetada pelo ateu e comunista Niemeyer tenha sido uma "cópia" mediúnica e espiritual de Nosso Lar?

Talvez o Simonetti é que precisasse comparar datas, as empíricas, desse mundo aqui mesmo: o filme é posterior a Brasília. E se baseia também em desenhos de médiuns (que supostamente teriam visitado Nosso Lar) bem posteriores a Brasília. Mas ainda assim, trata-se de uma recriação ARTÍSTICA via computação gráfica. Parece que alguns espíritas se esquecem de que falamos de um filme, que sequer é 100% fiel ao livro original. As cenas não foram filmadas diretamente em "Nosso Lar". É uma concepção bem humana, embora a partir de pontos parcialmetne descritos na obra religiosa em questão. 

Mas sim, sei que há uma crença dos espíritas de que Brasília - e até mesmo o recente Templo da Igreja Messiânica em Sâo Paulo, o Solo Sagrado - não passem de plágios da cidade astral de propriedade da FEB. Alguns dizem até que Juscelino e Niemeyer eram atlantes (!), o que explicaria a arquitetura da cidade (como era a "arquitetura atlante"?). Quanto a Nosso Lar, não posso afirmar. Mas no que diz respeito à arquitetura de Brasília, Lúcio Costa e Niemeyer já desmentiram essa possibilidade - algumas vezes entre risadas. Qualquer guia de visitas ao congresso nacional contará essa história para você, quando um dos sempre presentes esotéricos e espíritas começam a fazer associações místicas a partir das formas das maquetes de Brasília presentes nos subterrâneos da Câmara e do Senado.

Ainda assim, repeita-se, claro, o direito da CRENÇA de que haja um mundo platônico perfeito, o das idéias, do qual a realidade física seja apenas cópia imperfeita. Mas há também 2600 anos de filosofia feita basicamente como uma nota de rodapé ou crítica a Platão, autor que o espiritismo kardecista readapta. Lamentável que, como diz Nietzsche, o cristianimo tenha se tornado um "platonismo para as massas". Imagine o que ele diria se tivesse conhecido o proselitista e neoplatônico espiritismo religioso brasileiro.

Lázaro Freire
http://voadores.com.br/lazaro


--
Lázaro Freire
lazarofreire@voadores.com.br

Fonte: Leda Flaborea
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