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Vade Mecum Espírita

Faça você o julgamento.


          .......mas eis outro exemplo de produção mediúnica cujo caráter individual impede a possibilidade de explicação pela cla­rividência: quero falar do romance de Carlos Dickens: "Edwin Drood", deixado por terminar pelo ilustre autor e completado pelo médium James, um jovem sem ins­trução. Diversas testemunhas presenciaram o modo de produção da obra, e juízes competentes apreciaram lhe o valor literário.

          Passo a dar alguns pormenores acerca dessa pro­dução única nos anais da literatura.

          Quando se espalhou o boato de que o romance de Dickens ia ser terminado por tão extraordinário e insó­lito processo, o "Springfield Daily Union" expediu um de seus colaboradores a Brattleborough (Vermont), onde habitava o médium, para fazer uma investigação, no local, de todos os pormenores dessa estranha empresa literária. Eis alguns trechos do relatório em oito colunas publicado por esse jornal, a 26 de julho de 1873, re­produzido a princípio pelo "Banner of Light" e depois parcialmente pelo "The Spiritualist" de 1873, página 322, ao qual os tiramos:

          "Ele (o médium) nasceu em Boston; aos catorze anos, foi colocado como aprendiz em casa de um mecâ­nico, ofício que até hoje exerce; de maneira que sua instrução escolar terminou na idade de treze anos. Se bem que não fosse nem destituído de inteligência, nem iletrado, não manifestava gosto algum pela literatura e nunca se tinha interessado por ela.

          "Até então, nunca tinha experimentado publicar, em qualquer jornal, o menor artigo. Tal é o homem de quem Carlos Dickens lançou mão da pena para continuar "The Mistery of Edwin Drood" e que chegou quase a terminar essa obra.

          "Fui bastante feliz por ser a primeira pessoa a quem ele próprio participou todos os pormenores, a primeira que examinou o manuscrito e fez extratos.

          "Eis como se passaram as coisas. Havia dez meses, um jovem, o médium que, para ser breve, designarei pela inicial A (pois que ele não quis ainda divulgar seu nome), tinha sido convidado por seus amigos a sentar-se perto de uma mesa para fazer parte de uma experiência es­pírita. Até aquele dia, sempre havia zombado dos "mi­lagres espíritas", considerando-os fraudes, sem suspeitar que ele próprio possuía dons mediúnicos. Apenas come­çou a sessão, ouviram-se pancadas rápidas e a mesa, depois de movimentos bruscos e desordenados, cai sobre os joelhos do Sr. A. para fazer-lhe ver que é ele o médium. No dia seguinte, à noite, convidaram-no para tomar parte em uma segunda sessão; as manifestações foram ainda mais acentuadas. O Sr. A. caiu subita­mente em transe, tomou um lápis e escreveu uma co­municação assinada com o nome do filho de uma das pessoas presentes, de cuja existência o Sr. A. não sus­peitava. Mas as particularidades dessas experiências não são de interesse particular neste lugar...

          "Em fins do mês de Outubro de 1872, no decurso de uma sessão, o Sr. A. escreveu uma comunicação dirigi­da a si mesmo e assinada com o nome de Carlos Dickens, com o pedido de organizar para ele uma sessão especial, a 15 de Novembro.

          "Entre Outubro e o meado de Novembro novas co­municações lembraram-lhe aquele pedido por muitas ve­zes. A sessão de 15 de Novembro, que, segundo as in­dicações recebidas, se realizou às escuras, em presença do Sr. A. somente, deu em resultado uma longa comu­nicação de Dickens, que externou o desejo de terminar, com o auxílio do médium, seu romance não acabado.

          "Essa comunicação informava que Dickens tinha pro­curado por longo tempo o meio de conseguir esse in­tento, mas que até aquele dia não tinha encontrado médium apto para realizar semelhante incumbência. Ele desejava que o primeiro ditado fosse feito na véspera do Natal, noite que prezava particularmente, e pedia encarecidamente ao médium que consagrasse àquela obra todo o tempo de que pudesse dispor, sem prejudicar as suas ocupações habituais... Em breve tornou-se eviden­te que era a mão do mestre que escrevia, e o Sr. A. aceitou com a melhor boa vontade essa estranha situa­ção. Esses trabalhos, executados pelo médium, fora de suas ocupações profissionais, que lhe tomavam dez ho­ras por dia, produziram, até Julho de 1873, duzentas folhas de manuscrito, o que representa um volume in-octavo de quatrocentas páginas."

          Fazendo a crítica dessa nova parte do romance, o correspondente do «Springfield Daily Union» exprime-se assim:

          "Achamo-nos aqui em presença de um grupo inteiro de personagens, cada uma dos quais tem seus traços característicos, e os papéis de todas essas personagens devem ser sustentados até o fim, o que constitui um tra­balho considerável para quem em sua vida não escreveu três páginas sobre um assunto qualquer; pelo que fi­cámos surpresos em verificar desde o primeiro capítulo uma semelhança completa com a parte desse romance que estava publicada. A narração é recomeçada no pon­to preciso em que a morte do autor a tinha deixado interrompida, e isso com uma concordância tão perfeita que o mais consumado crítico, que não tivesse conheci­mento do lugar da interrupção, não poderia dizer em que momento Dickens deixou de escrever o romance por sua própria mão. Cada uma das personagens do livro continua a ser tão viva, tão típica, tão bem caracteri­zada na segunda parte como na primeira. Não é tudo. Apresentam-se nos novas personagens (Dickens tinha o hábito de introduzir atores novos até nas últimas cenas de suas obras) que não são absolutamente reproduções dos heróis da primeira parte; não são bonecos, porém caracteres tomados ao vivo, verdadeiras criações. Cria­das por quem?...» (Pág. 323.)

          O correspondente prossegue:

          "Eis uma multidão de pormenores de incontestável interesse. Examinando o manuscrito, notei que a pala­vra traveller (viajante) era escrita sempre com dois I, como é uso na Inglaterra, ao passo que entre nós, na América, não se usa mais de um 1, em geral.

          "A palavra coal (carvão) é escrita invariavelmente coais, com um s, como se usa na Inglaterra. E’ interes­sante também notar no emprego das minúsculas as mes­mas particularidades que se podem observar nos ma­nuscritos de Dickens; por exemplo, quando ele designa o Sr. Grewgious, como an angular man (um homem anguloso). Também é digno de nota o conhecimento topográfico de Londres, de que dá prova o autor mis­terioso em muitas passagens do livro. Há também mui­tos torneios de linguagem usados na Inglaterra, porém desconhecidos na América. Mencionarei também a mu­dança súbita do tempo passado em tempo presente, prin­cipalmente em uma narração animada, transição mui frequente em Dickens, sobretudo em suas últimas obras. Essas particularidades, e outras ainda que poderiam ser citadas, são de importância secundária, porém é com semelhantes bagatelas que se teria feito malograr qual­quer tentativa de fraude."

          E eis a conclusão do artigo citado:

          "Cheguei a Brattleborough com a convicção de que essa obra póstuma não passaria de uma bolha de sabão, fácil de rebentar. Depois de dois dias de exame atento, parti de novo, e, devo confessá-lo, estava indeciso. Neguei em primeiro lugar como coisa impossível —, como qualquer um tê-lo-ia feito depois de um exame — que esse manuscrito tivesse sido escrito pela mão do jovem médium Sr. A.; ele me disse que nunca tinha lido o primeiro volume; particularidade insignificante, a meu ver, pois que estou perfeitamente convencido de que ele não era capaz de escrever uma só página do segundo volume. Isso não é para ofender o médium, pois que não há muitas pessoas no caso de continuar uma obra não acabada de Dickens!

          "Vejo-me, por conseguinte, colocado nesta alterna­tiva: ou um homem qualquer de gênio se utilizou do Sr. A. como instrumento para apresentar ao público uma obra extraordinária, de maneira igualmente extra­ordinária; ou antes esse livro, como o pretende seu au­tor invisível, foi escrito, efetivamente, sob o ditado de Dickens. A segunda suposição não é mais maravilhosa que a primeira. Se existe em Vermont um homem, des­conhecido até o presente, capaz de escrever como Dickens, certamente ele não tem motivo algum para ter recorrido a semelhante subterfúgio. Se, por outro lado, é o pró­prio Dickens "quem fala, se bem que tenha morrido", para que surpresas não devemos preparar-nos? Atesto, sob palavra de honra, que, tendo tido tempo suficiente de examinar com liberdade todas as coisas, não pude descobrir o mínimo indício de embuste, e, se eu tivesse a autorização de publicar o nome do médium-autor, era o suficiente para dissipar todas as suspeitas aos olhos das pessoas que o conhecem, por pouco que seja.» (Pá­gina 326.)

          Eis ainda algumas informações hauridas da mesma fonte:

          "No começo, o médium só escrevia três vezes por semana, e nunca mais de três ou quatro páginas de cada vez; depois, porém, as sessões se tornaram biquotidianas, e ele escrevia finalmente dez ou doze páginas, às vezes mesmo vinte. Não escrevia com a sua caligrafia normal, e, feito o confronto, havia nela alguma seme­lhança com a de Dickens. No começo de cada sessão, a escrita era bela, elegante, quase feminina, mas, à pro­porção que o trabalho progredia, a escrita tornava-se cada vez mais grossa, e, nas últimas páginas, as letras eram cinco vezes maiores, pelo menos, do que no come­ço. Essas mesmas gradações se reproduziram em cada sessão, permitindo assim classificar por séries as qui­nhentas folhas do manuscrito. Algumas das páginas começam por sinais estenográficos, dos quais o médium não tinha o mínimo conhecimento. A escrita é tão rápi­da, às vezes, que se leva tempo para decifrá-la.

          "A maneira de proceder nas sessões é muito sim­ples: preparam- se dois lápis bem aparados e grande quantidade de papel cortado em tiras; o Sr. A. retira-se só para seu aposento. A hora habitual era às seis horas da manhã ou às sete e meia da noite, horas em que ainda havia claridade durante aquela estação; en­tretanto, as sessões da noite prolongavam-se frequente­mente além das oito horas e meia e mesmo mais tarde, e, então a escrita continuava, apesar da escuridão, com a mesma nitidez. Durante o inverno todas as sessões se realizaram às escuras.

          "O "secretário" de Dickens coloca o papel e os lápis ao seu alcance, põe as mãos em cima da mesa, com a palma para baixo, e espera tranquilamente. Tranqui­lidade relativa, entretanto, pois que, não obstante os fenômenos terem perdido sua novidade, e ele já se ter habituado a eles, o médium confessa não poder eximir-se a um sentimento de terror durante essas sessões, no decurso das quais ele evoca, por assim dizer, um fan­tasma .

          "Ele espera assim — algumas vezes fumando seu cigarro — durante dois, três, cinco minutos, às vezes dez, mesmo durante uma meia hora; mas, de ordinário, se as "condições são favoráveis", não mais de dois minutos. As condições dependem principalmente do estado do tempo. Se o dia é claro, sereno, ele trabalha sem interrupção: tal seria uma máquina elétrica que funcionasse melhor com um tempo favorável; um tempo tempestuoso produz perturbação, e, quanto mais violenta é a tempestade, tanto mais se acentua a perturbação. Quando o tempo é inteiramente mau, a sessão fica adiada.

          "Depois de se ter conservado à mesa durante o tempo preciso, segundo as circunstâncias, o Sr. A. perde gradualmente os sentidos, e é nesse estado que escreve durante uma meia hora ou uma hora. Aconteceu-lhe certo dia escrever durante uma hora e meia. O fato único de que o médium se recorda, passado o estado de transe, é a visão de Dickens que volta de cada vez; o escritor — diz ele —está sentado a seu lado, com a cabeça apoiada nas mãos, imerso em profunda meditação, com expressão séria, um pouco melancólica, no rosto; não diz uma palavra, mas lança às vezes sobre o médium um olhar penetrante e sugestivo. "Oh! que olhar!"

          "Essas recordações ocorrem ao médium da mesma maneira que um sonho que se acaba de ter, como uma coisa real, mas ao mesmo tempo intangível. Para indicar que a sessão está terminada, Dickens pousa de cada vez sua mão fria e pesada sobre a do médium.

          "Nas primeiras sessões, esse contato provocava da parte do Sr. A. exclamações de terror, e, ainda nesse momento, ele não pode falar nisso sem estremecer; esse contato fazia-o sair de seu estado de transe, porém de ordinário lhe era preciso o auxílio de uma terceira pessoa para levantar suas mãos da mesa, à qual elas estavam por assim dizer aderentes por uma força magnética. (19) Readquirindo os sentidos, ele vê, esparsas pelo soalho, as tiras escritas durante essa sessão.

          "Essas tiras não são numeradas, de maneira que o Sr. A. é obrigado a classificá-las segundo o texto. Durante algum tempo, depois dessas sessões, o médium sentia uma dor mui intensa no peito, mas não era de longa duração, e são as únicas consequências desagradáveis que ficavam das sessões. O nervosismo extremo de que ele sofria, antes do desenvolvimento de suas faculdades mediúnicas, deixou-o completamente; jamais foi ele tão robusto."

          Podem-se ler outros pormenores na página 375 do "Spiritualist" de 1873 e página 26 de 1874, onde o Sr. Harrison, pessoa mui competente nessas matérias, assim se exprime: "É difícil admitir que o gênio e o senso artístico com que esse escrito está marcado e que têm tanta semelhança com o gênio e com o senso artístico de Carlos Dickens tenham induzido o seu autor, qualquer que ele seja, a só se apresentar ao mundo como hábil falsificador."

(19) E' menos uma atração do que um estado cataléptico, como observei frequentemente com minha mulher depois de uma sessão de escrita. A. A.

Autor: Alexander Aksakof
Fonte: Animismo e Espiritismo - Vol II - Cap.III 4§10
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