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Vade Mecum Espírita

Carta sobre a Incredulidade


Revista Espírita 1861

Janeiro / Fevereiro

 

        Um dos nossos colegas, o Sr. Canu, outrora fortemente imbuído dos princípios materialistas, e que o Espiritismo levou a uma sadia apreciação das coisas, se censurava pelo fato de ser propagador de doutrinas que considera agora como subversivas da ordem social; na intenção de reparar isso que ele considera com razão como uma falta, e de esclarecer aqueles que ele desviou, escreveu, a um de seus amigos, uma carta sobre a qual quis pedir a nossa opinião. Ela nos pareceu tão bem responder ao objetivo que se propunha, que rogamos nos permitir publicá-la, do que os nossos leitores, sem dúvida, estarão agradecidos.

        Em lugar de abordar decididamente a questão do Espiritismo, que seria repelida por pessoas não admitindo a alma que lhe é a base; em lugar, sobretudo, de exibir aos seus olhos fenômenos estranhos que tivessem negado, ou atribuído a causas vulgares, ele remonta à sua fonte. Procura, com razão, torná-los espiritualistas antes de torná-los Espíritas; por um encadeamento de idéias perfeitamente lógico, chega à idéia espírita como conseqüência. Este caminho, evidentemente, é o mais racional.

        A extensão dessa carta nos obriga a dividir-lhe a publicação.

        "Paris, 10 de novembro de 1860.

         Meu caro amigo.

        Desejas uma longa carta sobre o Espiritismo, vou tratar de satisfazer-te com o meu melhor,esperando o envio de uma obra importante sobre a matéria, a qual deverá aparecer no fim do ano.

        Serei obrigado a começar por algumas considerações gerais, e nos seria preciso remontar à origem do homem; isto alongará um pouco a minha carta, mas é indispensável para a inteligência da coisa.

        Tudo passa! diz-se geralmente.

        Sim, tudo passa; mas geralmente também dá-se a esta expressão um significado bem distante daquele que lhe pertence.       

        Tudo passa, mas nada se acaba, senão a forma.

        Tudo passa, nesse sentido de que tudo caminha e segue o seu curso, mas não um curso cego e sem objetivo, se bem que não deva jamais acabar.

        O movimento é a grande lei do Universo, na ordem moral como na ordem física, e o objetivo do movimento é o progresso para o melhor; é um trabalho ativo, incessante e universal; é o que chamamos o progresso.

        Tudo está submetido a essa lei, com exceção de Deus. Deus é o autor; a criatura é um instrumento e o objeto.

        A criação se compõe de duas naturezas distintas: a natureza material e a natureza intelectual; esta é o instrumento ativo; a outra é o instrumento passivo.

        Estes dois instrumentos são o complemento um do outro, quer dizer, um sem o outro seria de uso completamente nulo.

        Sem a natureza intelectual, ou o espírito inteligente e ativo, a natureza material, quer dizer, a matéria ininteligente e inerte, seria perfeitamente inútil, não podendo nada por si mesma. Sem a matéria inerte, o Espírito inteligente não teria poder maior.

        Mesmo o mais perfeito instrumento seria como se não existisse, se não houvesse alguém para dele se servir.

        O obreiro mais hábil, o sábio da ordem mais elevada, seriam também impotentes quanto o mais completo idiota, se não tivessem instrumentos para desenvolver a sua ciência e manifestá-la.

        É agora o momento e aqui o lugar de fazer notar que o instrumento material não consiste somente na plaina do marceneiro, na tesoura do escultor, na paleta do pintor, no escalpelo do cirurgião, no compasso ou na luneta do astrônomo; consiste também na mão, na língua, nos olhos, no cérebro, em uma palavra, na reunião de todos os órgãos materiais necessários à manifestação do pensamento, o que implica, naturalmente, na denominação de instrumento passivo a própria  matéria, ela mesma, sobre a qual a inteligência opera por meio do instrumento propriamente dito. Assim é que uma mesa, uma casa, um quadro, considerados nos elementos que os compõem, não são menos instrumentos do que a serra, a plaina, o esquadro, a colher de pedreiro, o pincel que os produziu, do que a mão e os olhos que dirigiram estes últimos, do que o cérebro, enfim, que presidiu a essa direção. Ora, tudo isso o cumpriu o cérebro, foi o instrumento complexo do qual se serviu a inteligência para manifestar o seu pensamento, a sua vontade, que era a de produzir uma forma, e essa forma era ou uma mesa, ou uma casa, ou um quadro, etc.

        A matéria, inerte pela sua natureza, informe em sua essência, não adquire propriedades úteis senão pela forma que se lhe imprime; o que fez um célebre fisiologista dizer que a forma era mais necessária do que a matéria; proposição um pouco paradoxal talvez, mas que prova a superioridade do papel que a forma desempenha nas modificações da matéria. É segundo esta lei que o próprio Deus, se assim posso me exprimir, dispôs e modifica sem cessar os mundos e as criaturas que os habitam, segundo as formas que melhor convém aos seus objetivos para a harmonização do Universo; e é sempre segundo essa lei que as criaturas inteligentes agem incessantemente sobre a matéria, como o próprio Deus, mas secundariamente concorrem para a sua transformação contínua, transformação da qual cada grau, cada escalão é um passo no progresso, ao mesmo tempo que é a manifestação da inteligência que lhos mandou fazer.

        Assim é que tudo, na criação, está em movimento e sempre em progresso; que a missão da criatura inteligente é a de ativar esse movimento no sentido do progresso, o que ela cumpre, freqüentemente mesmo, sem o saber; que o papel da criatura material é o de obedecer a esse movimento e o de manifestar o progresso da criatura inteligente; que a criação, enfim, considerada em seu conjunto ou em suas partes, cumpre incessantemente os objetivos de Deus.

        Quantas criaturas ditas inteligentes (sem sair do nosso planeta), cumprem uma missão da qual estão longe de desconfiar! E confesso que, de minha parte, não faz muito tempo ainda, eu era desse número. Eu não seria mesmo inoportuno, a esse respeito, em colocar aqui algumas palavras de minha própria história; tu me perdoarás esta pequena digressão que pode ter o seu lado útil.

        Aluno da escola do dogma católico, e a reflexão e o exame não tendo se desenvolvido em mim senão bastante tarde, fui por muito tempo fervoroso e cego crente; sem dúvida, não o esqueceste. Mas sabes também que, mais tarde, caí num excesso contrário; da negação de certos princípios que a minha razão não podia admitir, conclui pela negação absoluta. O dogma da eternidade das penas sobretudo me revoltava; eu não podia conciliar a idéia de um Deus que se dizia infinitamente misericordioso com a de um castigo perpétuo por uma falta passageira; o quadro do inferno, com as suas fornalhas, as suas torturas materiais, me parecia ridículo e uma paródia do Tártaro dos Pagãos. Recapitulava as minhas impressões de infância, e as minhas lembranças que, quando da minha primeira comunhão, se nos dizia que não era preciso orar pelos condenados, porque isso não lhes serviria de nada; quem não tivesse a fé era votado às chamas, e que bastava a alguém duvidar da infalibilidade da Igreja para ser condenado; que mesmo o bem que se fizesse neste mundo não poderia salvar, tendo em vista que Deus colocava a fé acima das melhores ações humanas. Esta doutrina me tornara impiedoso e havia endurecido o meu coração; eu olhava os homens com desconfiança, e, ao menor pecadilho acreditava ter ao meu lado um condenado de quem tinha que fugir como da peste, e ao qual, na minha indignação, teria recusado um copo de água, dizendo-me que Deus lhe recusaria um dia bem mais. Se existissem ainda fogueiras, teria de bom grado nela empurrado todos aqueles que não tinham a fé ortodoxa, fosse mesmo o meu pai. Nesta situação de espírito, eu não podia amar a Deus: dele tinha medo.

        Mais tarde, uma multidão de circunstâncias, muito longas para enumerar, vieram me abrir os olhos, e rejeitei os dogmas que não concordavam com a minha razão, porque nada me ensinara a colocar a moral acima da forma; do fanatismo religioso, caí no fanatismo da incredulidade, a exemplo de tantos dos meus companheiros de infância.

        Não entrarei nos detalhes que nos levariam muito longe; acrescentarei somente que, depois de ter perdido, durante quinze anos, a doce ilusão da existência de um Deus infinitamente bom, poderoso e sábio, da existência e da imortalidade da alma, eu reencontrei, enfim, hoje, não mais a minha ilusão, mas uma certeza tão completa quanto a de minha existência atual, que é a que te escreve neste momento.

        Eis, meu amigo, o grande acontecimento de nossa época, o grande acontecimento que nos é dado ver se cumprir em nossos dias: a prova material da existência e da imortalidade da alma.

        Retornemos ao fato; mas para te fazer compreender melhor o Espiritismo, vamos remontar à origem do homem, e aí estaremos por muito tempo.

        É evidente que os globos que povoam a imensidade não são feitos tendo em vista unicamente a sua ornamentação; eles têm também um objetivo útil ao lado do agradável: o de produzir e de alimentar seres materiais vivos que sejam instrumentos apropriados e dóceis a essa multidão de criaturas inteligentes que povoam o espaço, e que são, em definitivo, a obra-prima, ou melhor, o objetivo da criação, uma vez que só elas têm a faculdade de conhecê-lo, admirá-lo e de adorar o seu autor.

        Cada um dos globos espalhados no espaço teve o seu começo, quanto à sua forma, num tempo mais ou menos recuado. Quanto à idade da matéria que o compõe, é um segredo que não nos importa aqui conhecer, sendo a forma tudo para o objeto que nos ocupa. Com efeito, pouco nos importa que a matéria seja eterna, ou unicamente criação anterior à formação do astro, ou enfim contemporânea a essa formação; o que é preciso saber é que o astro foi formado para ser habitado. Não é talvez fora de propósito acrescentar que essas formações não se fazem em um dia, como dizem as Escrituras; que um globo não sai de repente do nada coberto de florestas, de campinas e de habitantes, como Minerva saiu armada dos pés à cabeça de Júpiter. Não, Deus procede seguramente, mas lentamente; tudo segue uma lei lenta e progressiva, não que Deus hesite ou tenha necessidade da lentidão, mas porque as sua leis são tais e que são imutáveis. Aliás, o que chamamos lentidão, não o é para Deus, para quem o tempo nada é.

              Eis, pois, um globo em formação, ou se quiseres todo formado; devem se passar ainda muitos séculos, ou milhares de séculos antes que seja habitável, mas enfim esse momento chega. Depois de modificações numerosas e sucessivas em sua superfície, ele começa a se cobrir pouco a pouco de vegetação; (falo da Terra, não pretendendo fazer, a menos que por analogia, a história dos outros astros, cujo objetivo é evidentemente o mesmo, mas cujas modificações físicas podem variar). Ao lado da vegetação aparece a vida animal, uma e outra em sua maior simplicidade, esses dois ramos do reino orgânico sendo necessários um ao outro, se fecundam mutuamente alimentando-se reciprocamente, elaborando, de acordo, a matéria inorgânica, para torná-la cada vez mais própria para a formação de seres cada vez mais perfeitos, até que ela tenha chegado ao ponto de produzir e alimentar o corpo que deve servir de habitação e de instrumento ao ser por excelência, isto é, o ser intelectual que dêle deve servir-se, que, por assim dizer, o espera para manifestar-se e que sem ele não poderia manifestar-se.

        Eis-nos chegados ao homem!

        Como é formado? Aí não está ainda a questão; está formado segundo a grande lei da formação dos seres, eis tudo. Por não ser conhecida, essa lei não existe menos. Como se formaram os indivíduos de cada espécie de plantas? Os primeiros indivíduos de cada espécie de animais? Formaram-se cada um à sua maneira, segundo a mesma lei. Tudo o que há de certo é que Deus não teve necessidade de se transformar em fabricante de louça, nem de sujar as mãos na lama para formar o homem, nem de lhe arrancar um pedaço para fazer a mulher. Essa fábula, em aparência absurda e ridícula, pode bem ser uma figura engenhosa escondendo um sentido penetrável a espíritos mais perspicazes do que o meu; mas como disso não compreendo nada, me detenho aqui.

        Eis, pois, o homem material habitando a Terra, e habitado ele mesmo por um ser imaterial do qual não é senão o instrumento. Incapaz de nada por si mesmo, como a matéria em geral, não se torna próprio para alguma coisa senão pela inteligência que o move; mas essa inteligência, ela mesma, criatura imperfeita como tudo o que é criatura, quer dizer, como tudo o que não é Deus, tem necessidade de se aperfeiçoar, é precisamente em vista desse aperfeiçoamento que o corpo lhe foi dado, uma vez que sem a matéria o Espírito não poderia se manifestar, nem conseqüentemente se melhorar, se esclarecer, progredir enfim.

        A Humanidade, considerada coletivamente é comparada ao indivíduo; ignorante na infância, ela se esclarece à medida que avança em idade; o que se explica naturalmente pelo próprio estado de imperfeição em que estão os Espíritos para o adiantamento dos quais essa Humanidade foi feita; mas quanto ao Espírito considerado individualmente, não é numa só existência que ele pode adquirir a soma de progresso que está chamado a cumprir; é porque um maior ou menor número de existências corpóreas lhe são necessárias, segundo o uso que fará de cada uma delas. Mais ele terá trabalhado para o seu adiantamento em cada existência, menos terá que sofrê-las. E como cada existência corpórea é uma prova, uma expiação, um verdadeiro purgatório, tem interesse em progredir o mais prontamente possível, para ter a sofrer menos provas , porque o Espírito não retrograda; cada progresso cumprido por ele é uma conquista assegurada que nada poderia lhe tirar. Segundo este princípio, hoje averiguado, é evidente que quanto mais ele caminhar depressa, mais cedo chegará ao objetivo.

        Resulta do que precede que cada um de nós, hoje, não está em sua primeira existência corpórea, muito longe disso, está mais distante ainda de sua última, porque as nossas existências primitivas deveram se passar em mundos bem inferiores à Terra, sobre a qual não chegamos senão quando o nosso Espírito chegou a um estado de perfeição em relação com este astro; do mesmo modo que, à medida que progredirmos, passaremos para mundos mais bem avançados do que a Terra sob todos os aspectos, e isso, de degrau em degrau, avançando sempre para o melhor. Mas, antes de deixar um globo, parece que se deve sofrer nele geralmente várias existências, cujo número, todavia, não é limitado, mas muito subordinado à soma do progresso que se terá adquirido

         Prevejo uma objeção que vejo sobre os teus lábios.

        Tudo isso, dir-me-ás, pode ser verdadeiro, mas como não me lembro de nada, e que ocorre o mesmo com cada um de nós, tudo o que se passou em nossas existências precedentes é para nós como nulo; e se ocorre o mesmo em cada existência, pouco importa ao meu Espírito ser imortal ou morrer com o corpo, se, conservando a sua individualidade, não tem consciência de sua identidade.

        Com efeito, isso seria para nós a mesma coisa, mas não ocorre assim; não perdemos a lembrança do passado senão durante a vida corpórea, para reencontrá-la na morte, quer dizer, no despertar do Espírito, cuja verdadeira existência é a do Espírito livre, e para a qual as existências corpóreas podem ser comparadas ao sono para o corpo.

         Em que se tornam as almas dos mortos, esperando uma nova encarnação?

         As que não deixam a Terra, permanecem errantes em sua superfície, vão onde lhes apraz, sem dúvida, ou pelo menos onde podem, segundo o seu grau de adiantamento, mas, em geral, pouco se distanciam dos vivos, e sobretudo daqueles a quem se afeiçoam, quando se afeiçoam com alguém, a menos que não lhe sejam impostos deveres a serem cumpridos alhures. Somos, pois, a cada instante, cercados de uma multidão de Espíritos conhecidos e desconhecidos, amigos e inimigos, que nos vêem, nos observam, nos ouvem; dos quais uns tomam parte em nossas penas como em nossas alegrias, enquanto outros sofrem com os nossos gozos, ou gozam com as nossas dores, e enquanto outros, enfim, são indiferentes a tudo, exatamente como isso se passa sobre a Terra entre os mortais, dos quais conservam, no outro mundo, as afeições, as antipatias, os vícios e as virtudes. A diferença é que os bons gozam na outra vida de uma felicidade desconhecida sobre a Terra, e isso se concebe: não tendo mais necessidades materiais a satisfazer, nem obstáculos do mesmo gênero a superar; se bem viveram, quer dizer, se não têm nada ou senão pouca coisa a se censurar em sua última existência corpórea, gozam em paz do testemunho de sua consciência e do bem que fizeram. Se viveram mal, se foram maus, como estão lá a descoberto, não podem mais se dissimular sob o seu envoltório material, sofrem da vergonha de se verem conhecidos, apreciados; sofrem da presença daqueles que ofenderam, desprezaram, oprimiram, e da impossibilidade em que estão de se furtar aos olhares de todos. Eles sofrem, enfim, do remorso que os rói, até que o arrependimento venha aliviá-los, o que ocorre cedo ou tarde, ou até que uma nova encarnação os subtraia, não da visão dos outros Espíritos, mas de sua própria visão, em lhes tirando, momentaneamente, a consciência de sua identidade, e, perdendo, então, a lembrança do seu passado, são aliviados.

        Mas é então também que começa para eles uma nova prova; se têm a felicidade de dela saírem melhorados, gozam do progresso que fizeram; se não se melhoraram, reencontram os mesmos tormentos, até que, enfim, se arrependam ou aproveitem uma nova existência.

         Há um outro gênero de sofrimento: daquele que experimentam os maus Espíritos, os mais perversos. Aqueles, inacessíveis à vergonha e ao remorso, não lhe sofrem o tormento; mas os seus sofrimentos são mais vivos ainda, porque, sempre levados ao mal e impotentes em fazê-lo, sofrem da inveja de ver os outros mais felizes ou melhores do que eles, e da raiva, ao mesmo tempo, de não poderem saciar os seus ódios e se entregarem a todos os seus maus pendores. Oh! Aqueles sofrem muito; mas, como te disse, eles não sofrerão senão o tempo que não se melhorem, ou, em outras palavras, até o dia em que se melhorem. Freqüentemente, eles não prevêem esse fim; se são maus, se cegos pelo mal, que não suponham a existência ou a possibilidade da existência de um estado de coisas melhor, e não desconfiando, por conseqüência, de que os seus sofrimentos devem acabar um dia, é o que lhes endurece no mal e agrava os seus tormentos; mas, como não podem fugir sempre da sorte comum que Deus reserva a todas as suas criaturas, sem exceção, vem um momento em que lhe é necessário seguir, enfim, o caminho comum, e esse dia está, algumas vezes, mais próximo que não se seria tentado em crê-lo observando-se a sua perversidade. Viu-se os que se converteram de repente, e de repente os seus sofrimentos cessaram; entretanto, resta-lhes ainda rudes provas a sofrerem sobre a Terra em sua próxima encarnação; é necessário que se depurem expiando as suas faltas, e isso, em definitivo, não é senão justo; mas ao menos não têm mais medo de perderem o progresso adquirido, não podem retrogradar.

        Eis, meu amigo, o mais sucintamente, e o mais claramente, que me foi possível fazê-lo, a exposição da filosofia do Espiritismo, tal, ao menos, como me foi possível fazê-lo em uma carta; dele encontrarás os desenvolvimentos mais completos, até este dia, e os mais satisfatórios em O Livro dos Espíritos, fonte onde eu mesmo hauri o que me fez o que sou.

        Passemos agora à prática. Desde que o homem existe sobre a Terra, existem os Espíritos; e, desde então também, os Espíritos se manifestaram aos homens. A história e a tradição formigam de provas a esse respeito; mas, seja porque uns não compreendessem os fenômenos dessas manifestações, seja porque outros não ousassem divulgá-las, de medo da prisão ou da fogueira, seja que esses fatos fossem levados à conta da superstição ou do charlatanismo pelas pessoas muito prevenidas, ou que tinham interesse em que não se fizesse a luz; seja, enfim, porque fossem levadas à conta do demônio por uma outra classe de interesses, é certo que, até estes últimos tempos, esses fenômenos, embora bem constatados, não tinham ainda sido explicados de modo satisfatório, ou que, pelo menos, a verdadeira teoria não tinha ainda penetrado no domínio público, provavelmente porque a Humanidade ainda não estava madura para isso, como para muitas outras coisas maravilhosas que se cumprem em nossos dias. Estava reservado à nossa época ver eclodir, no mesmo meio século, o vapor, a eletricidade, o magnetismo animal, eu entendo, pelo menos, como ciências aplicadas, e, enfim, o Espiritismo, o mais maravilhoso de todos, quer dizer, não só a constatação material da nossa existência imaterial e da nossa imortalidade, mas ainda o estabelecimento de relações materiais, por assim dizer, e constantes entre o mundo invisível e nós. Quantas conseqüências incalculáveis não devem nascer de um acontecimento tão prodigioso! Mas, para não falar senão daquilo que, atualmente, mais impressiona a generalidade dos homens, da morte, por exemplo, não a vemos reduzida ao seu verdadeiro papel de acidente natural, necessário, eu diria mesmo feliz, e perdendo assim todo o seu caráter de acontecimento doloroso e terrível, uma vez que, para aquele que a suporta, ela é um momento do despertar; uma vez que, desde o dia seguinte da morte de um ser querido, nós outros que ficamos, podemos continuar as nossas relações íntimas no passado! Não há de mudança senão as nossas relações materiais; não o vemos mais, não o tocamos mais, não ouvimos mais a sua voz; mas nós continuamos a trocar com ele os nossos pensamentos, como quando vivo, e, freqüentemente, muito mais frutuosamente para nós. Que resta, depois disso, de tão doloroso! E, acrescentando-se, ao que precede, essa certeza de que não estamos mais separados dele senão por alguns anos, alguns meses, alguns dias talvez, tudo isso não é feito para transformar em um simples acontecimento útil aquele que, até hoje, com quase poucas exceções, os mais decididos não podiam encarar sem medo, e que, certamente, faz o tormento incessante de toda a existência de muitos homens? Mas eu me afastei do assunto.

        Antes de te explicar a prática muito simples das comunicações, eu gostaria de tentar te dar uma idéia da teoria fisiológica que me foi dado fazer. Eu não tá dou por certa, porque não a vi ainda explicada pela ciência; mas me parece, pelo menos, que deve ser alguma coisa próxima disso.

        O Espírito age sobre a matéria tanto mais facilmente quanto ela esteja disposta de um modo mais próprio para receber a sua ação, é por isso que não age diretamente sobre toda a espécie de matéria, mas poderia agir indiretamente, se se encontrasse, entre essa matéria e ele, certas substâncias de uma organização graduada que colocam os dois extremos em relação, quer dizer, a matéria mais bruta em relação com o Espírito. Assim é que o Espírito de um homem vivo desloca blocos de pedras muito pesados, os configura, os coordena com outros e deles forma um todo que chama uma casa, uma coluna, uma igreja, um palácio, etc. Foi o homem-corpo que fez tudo isso? Quem ousaria dize-lo?... Sim, foi ele que fez isso, como é uma pena que escreve esta carta; mas eu volto, porque me sinto ainda indo à deriva.

        Como o Espírito se põe em relação com o pesado bloco que ele quer deslocar? Por meio da matéria escalonada entre ele e o bloco; a alavanca põe o bloco em relação com a mão; a mão põe a alavanca em relação com os músculos; os músculos colocam a mão em relação com os nervos; os nervos metem os músculos em relação com o cérebro, e o cérebro coloca os nervos em relação com o Espírito, a menos que não haja ainda uma matéria mais delicada, um fluido que coloca o cérebro em relação com o Espírito. Qualquer que seja, um intermediário de mais ou de menos, não infirma a teoria; que o Espírito agisse de primeira ou de segunda mão sobre o cérebro, trata-se sempre de muito perto; de sorte que, retomando a coloque em relação com o reverso, ou antes, em sua ordem natural, eis o Espírito agindo sobre uma matéria extremamente delicada, organizada pela sabedoria do Criador de maneira própria a receber diretamente, ou quase diretamente, a ação de sua vontade; essa matéria, que é o cérebro, age, por meio de suas ramificações que chamamos os nervos, sobre uma outra matéria menos delicada, mas que ainda bastante para receber a ação desta, e que são os músculos; os músculos imprimindo movimento à parte sólida que são os ossos do braço e da mão, enquanto que as outras partes do vigamento ósseo, recebendo a mesma ação servem de ponto de apoio ou escora. A parte óssea, quando não é ainda bastante forte por si mesma, ou bastante extensa para agir diretamente, multiplica a sua força com a ajuda da alavanca, e, eis o pesado bloco inerte, obedecendo documente à vontade do Espírito que, sem essa hierarquia intermediária, não teria nenhuma ação sobre ele.

        Procedendo do mais para o menos, eis os menores fatos do Espírito explicados, do mesmo modo que procedendo no sentido contrário, vê-se como o Espírito pode chegar a transpor as montanhas, secar os lagos etc., e em tudo isso, o corpo desaparece quase no meio da multidão de instrumentos necessários, e entre os quais não faz senão desempenhar o primeiro papel.

        Eu quero escrever uma carta; o que me é necessário fazer? Colocar uma folha de papel em relação com o meu Espírito, como ainda há pouco o colocava como bloco de pedra; substituo a alavanca pela pena e a coisa está feita. Eis a folha de papel repetindo o pensamento do meu Espírito, como ainda há pouco o movimento impresso ao bloco manifestava a sua vontade.

        Se meu Espírito quer transmitir mais diretamente, mais instantaneamente, seu pensamento ao teu, e que nada a isso se oponha, tais como a distância ou a interposição de um corpo sólido, sempre por meio do cérebro e dos nervos, ele põe em movimento o órgão da voz que, ferindo o ar de diversas maneiras, produz certos sons variados e convencionados representando o pensamento, os quais vão repercutir em teu órgão auditivo que o transmite ao teu Espírito, por meio de teus nervos e de teu cérebro; é sempre o pensamento manifestado e transmitido por uma série de agentes materiais, graduados e interpostos entre seu princípio e seu objeto.

        Se a teoria que precede é verdadeira, parece-me que nada é mais fácil agora senão explicar o fenômeno das manifestações espíritas, e particularmente da escrita mediúnica, a única que nos ocupa neste momento.

        Sendo a substância física idêntica entre todos os Espíritos, seu modo de ação sobre a matéria deve ser o mesmo para todos; só o seu poder pode variar de graus. A matéria dos nervos estando organizada de modo a poder receber a ação de um Espírito, não há razão para que ela não possa receber a ação de um outro Espírito, cuja natureza não difere da do primeiro; e uma vez que a substância de todos os Espíritos é da mesma natureza, todos os Espíritos devem estar aptos a exercer, não diria a mesma ação, mas o mesmo modo de ação sobre a mesma substância, todas as vezes que eles se colocam na medida de poder fazê-lo; ora, é o que acontece na evocação.

        O que é a evocação?

        É o ato pelo qual um Espírito, titular de um corpo, pede um outro Espírito, ou, muito simplesmente, lhe permite servir-se de seu próprio órgão, de seu próprio instrumento, para manifestar o seu pensamento ou a sua vontade.

        O Espírito titular não abandona por isso o seu corpo, mas pode bem neutralizar, momentaneamente, sua própria ação sobre o órgão da transmissão, e deixá-la assim à disposição do outro que não pode, todavia, dele se servir senão quanto apraza ao primeiro permiti-lo, em virtude deste axioma do direito natural de que cada um deve ser senhor de si mesmo. Entretanto, é necessário dize-lo bem, ocorre no Espiritismo, como nas sociedades humanas, que esse direito de propriedade não é sempre escrupulosamente respeitado pelos senhores Espíritos, e que mais de um médium se encontrou, mais de uma vez, muito surpreso por ter dado hospitalidade a hóspedes que não convidara e ainda menos desejara; mas está aí um dos mil pequenos desagrados da vida, que é necessário suportar, tanto mais que, na espécie, tem sempre um lado útil, não fosse senão com o fim de nos provar, ao mesmo tempo que são a prova mais manifesta da ação de um Espírito estranho sobre o nosso órgão, nos fazendo escrever coisas que estávamos longe de prever, ou que não estamos de nenhum modo ciosos de ouvir. Contudo, isso não ocorre aos médiuns senão em seu início; quando estão formados, isso não ocorre mais, ou, pelo menos, não se deixam mais prender nisso.

        Cada um está apto para ser médium? Naturalmente isso deveria ser, em graus diferentes todavia, como com aptidões diversas; está aí a opinião do Sr. Kardec. Há médiuns escreventes, médiuns videntes, médiuns audientes, médiuns intuitivos, quer dizer, os Médiuns que escrevem, que são os mais numerosos e mais úteis; os médiuns que vêem os Espíritos; outros que os ouvem e conversam com eles como com os vivos: estes são raros; outros que recebem os pensamentos do Espírito evocado em seu cérebro, e os transmitem pela palavra. Um Médium possui raramente várias dessas faculdades ao mesmo tempo. Há ainda médiuns de um outro gênero, quer dizer, cuja presença somente em um lugar qualquer permite aos Espíritos aí se manifestarem, seja por um ruído, tais como as pancadas, seja pelo movimento dos corpos, tal qual o deslocamento de uma mesinha, o erguimento de uma cadeira, de uma mesa ou de qualquer outro objeto. Foi por esse meio que os Espíritos começaram a se manifestar e a revelar a sua existência. Ouviste falar das mesas girantes e da dança das mesas, disso riste e eu também; pois bem! Foram os primeiros meios que os Espíritos empregaram para atrair a atenção; foi assim que se reconheceu a sua presença; depois do que, com a ajuda da observação e do estudo, chegou-se a descobrir, nos homens, faculdades até então ignoradas, por meio das quais se pode entrar em comunicação direta com os Espíritos. Tudo isso não é maravilhoso? E, todavia, isso não é senão natural; somente, eu o repito, estava reservado à nossa época de fazer a descoberta e a aplicação dessa ciência, como de muitos outros segredos maravilhosos da Natureza.

        Agora, para se pôr em relação com os Espíritos, ou pelo menos para ver se se está apto para fazê-lo pela escrita, toma-se uma folha de papel branco e um lápis que marque bem, colocando-se em posição de escrever. É sempre bom começar dirigindo uma prece a Deus, depois evoca-se um Espírito, quer dizer, roga-se-lhe consentir em se comunicar conosco e nos fazer escrever; depois espera-se, sempre na mesma posição.

        Há pessoas que têm a faculdade medianímica de tal modo desenvolvida, que escrevem tudo do início; outras, ao contrário, não vêem essa faculdade se desenvolver nelas senão com o tempo e a perseverança. Neste último caso, renova-se a sessão cada dia, e para isso um quarto de hora basta; é inútil nisso passar mais tempo; mas, tanto quanto possível, é necessário renová-la todos os dias, sendo a perseverança uma das primeiras condições de sucesso.

        É necessário também fazer a prece e a evocação com fervor; repeti-la mesmo algumas vezes durante o exercício; ter uma vontade firme, um grande desejo de vencer e sobretudo, nenhuma distração. Quando uma vez se conseguiu escrever, estas últimas preocupações tornam-se inúteis.

        Quando se deve logo escrever, sente-se ordinariamente um ligeiro estremecimento na mão, precedido algumas vezes de um ligeiro adormecimento da mão e do braço, algumas vezes mesmo de uma leve dor nos músculos do braço e da mão; esses são sinais precursores e quase sempre certos de que o momento do sucesso não está longe; é algumas vezes imediato, de outras vezes, se faz ainda esperar de um ou vários dias, mas jamais tarda muito; somente, para ali chegar, é necessário mais ou menos tempo, o que pode variar de um instante a seis meses, mas eu to repito, um quarto de hora de exercício por dia basta.

        Quanto aos Espíritos que podem ser evocados, para essas espécies de exercícios preparatórios, é preferível dirigir-se ao seu Espírito familiar que está sempre ali e não nos deixa nunca, ao passo que os outros Espíritos podem ali não estar senão momentaneamente, e não mais se encontrar no momento em que os evocamos, e estar então, por uma causa qualquer, na impossibilidade de atender ao nosso chamado, o que ocorre algumas vezes.

        O Espírito familiar, que confirma, até certo ponto, a teoria católica do anjo guardião, não é, entretanto, inteiramente tal como no-lo representa o dogma católico. É muito simplesmente o Espírito de um mortal que viveu como nós, mas que está sempre mais avançado que nós e nos é, por conseqüência, infinitamente superior em bondade e em inteligência; que cumpre aí uma missão meritória para ele, proveitosa para nós, e nos acompanha assim neste mundo e no outro, até que seja chamado para uma nova encarnação, ou até que nós mesmos, chegados a um certo grau de superioridade, sejamos chamados a cumprir, na outra vida, uma missão semelhante junto de um mortal menos avançado do que nós.

        Tudo isto, meu caro amigo, entra maravilhosamente, como o vês, nas nossas idéias de solidariedade universal. Tudo isto, em nos mostrando esta solidariedade estabelecida de todos os tempos e funcionando constantemente entre o mundo invisível e nós, nos prova, certamente, que não é uma utopia de concepção humana, mas bem uma das leis da Natureza; que os primeiros pensadores que a pregaram não a inventaram, mas somente a descobriram; e que, enfim, estando nas leis da Natureza, ela está chamada fatalmente a se desenvolver nas sociedades humanas, apesar das resistências e dos obstáculos que poderão ainda lhe opor os seus cegos adversários (1-(1) Por pouco que os fatos mais naturais, mas ainda não explicados, se prestem a maravilhoso, cada um sabe com que agilidade a zombaria deles se apodera e com que audácia os explora; está aí, talvez, ainda um dos maiores obstáculos à descoberta e sobretudo à vulgarização da verdade).

        Não me resta mais senão te falar da maneira de evocar. É a coisa mais simples. Não há para isso nenhuma forma cabalística, nenhuma fórmula obrigatória; tu te diriges ao Espírito nos termos que te convém; eis tudo. Para te fazer melhor compreender, todavia, a simplicidade da coisa, vou dizer-te a fórmula que eu mesmo emprego: "Deus Todo-poderoso! Permiti ao bom anjo (ou ao Espírito de um tal, preferindo-se evocar um outro Espírito) de se comunicar comigo e de me fazer escrever." Ou bem ainda: "Em nome de Deus Todo-Poderoso, peço ao meu bom anjo (ou ao Espírito de...) se comunicar comigo."

        Agora, queres saber o resultado da minha própria experiência; ei-lo:

        Depois de mais ou menos seis semanas de exercícios infrutíferos, um dia, senti minha mão tremer, se agitar e traçar de repente, com o lápis, caracteres informes. Nos exercícios seguintes, esses caracteres, embora sempre ininteligíveis, se tomaram mais regulares; eu escrevia linhas e páginas com a rapidez de minha escrita comum, mas sempre ilegíveis. De outras vezes, eu traçava rubricas de todas as espécies, pequenas, grandes, algumas vezes de todo o papel. Algumas vezes eram linhas direitas, ora de alto a abaixo, ora atravessadas. De outras vezes, eram círculos, ora grandes, ora pequenos, e algumas vezes tão repetidos uns sobre os outros, que a folha de papel ficava toda enegrecida pelo lápis.

        Enfim, depois de um mês de exercício mais variado, mas também o mais insignificante, comecei a me aborrecer, e pedia ao meu Espírito familiar para me fazer traçar letras, ao menos se não pudesse me fazer escrever palavras; eu obtinha, então, todas as letras do alfabeto, mas não pude obter mais.

        Nesses intervalos, minha mulher, que sempre teve o pressentimento de não possuir a faculdade medianímica, se decidiu entretanto tentá-la e, ao cabo de quinze dias de espera, se pôs a escrever correntemente e com uma grande facilidade; mas, mais feliz do que eu, ela o fazia muito corretamente e muito legivelmente.

        Um dos nossos amigos conseguiu, desde o segundo exercício, a rabiscar como eu, mas isso foi tudo. Não nos desencorajamos por isso; estamos convencidos de que é uma prova e que, cedo ou tarde, nós escreveremos; não é preciso senão a paciência, é fácil.

        Numa outra carta, eu te entreterei com as comunicações que recebemos por minha mulher, e que, bastante singulares por si mesmas, são sobretudo muito concludentes pela existência dos Espíritos. Temos bastante por hoje; tinha a te fazer uma exposição que, se bem que muito sumária, entretanto, pode abarcar o conjunto da teoria espírita. Isto bastará, eu o espero, para excitar a tua curiosidade, e sobretudo despertar o teu interesse; a leitura das obras especiais, às quais isto vai te dispor, fará o resto.

        Esperando a obra prática da qual te falei, enviarei muito proximamente a obra filosófica intitulada: O Livro dos Espíritos.

        Estuda, lê, relê, experimenta, trabalha, e sobretudo não desanimes nunca: a coisa vale a pena. E, além disso, não prestes atenção aos risos; já há muitos que não riem mais, se bem que estejam ainda na posse de todos os órgãos que lhes serviam há algum tempo.

 

A ti e até breve, CANU

 

  

 

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Autor: Allan Kardec
Fonte: Revista Espírita 1861 - Janeiro e Fevereiro
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