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Xenoglossia -


Caso XI

          Disse eu em começo que, apesar de ser abundante a messe dos fatos que colecionei, também nesta segunda categoria o número dos casos citados seria muito limitado, devido à forma por demais anedótica, ou por demais reticente, em que na sua maioria se encontram narrados. Dado isto, inútil não será um exemplo confirmativo do que alego, para realçar a circunstância, que muito amiúde ocorre, de ter-se a impressão de estar diante de episódios genuínos e importantes, mas que, entretanto, não podem incluir-se numa classificação científica, pela razão de que os relatores, ou por descuido, ou por conveniências sociais, se abstêm de declinar os nomes dos protagonistas, ou das localidades onde os fatos se produziram.

          O caso que passo a referir publicou-o origináriamente o "Times", de Londres (18 de Agosto de 1922), ao qual foi comunicado por um de seus redatores, que ao tempo viajava pelo Japão. De Honolulu, nas ilhas Haway, escreveu ele nestes termos:

          Mal saíramos do arquipélago das Haway, as flores mais belas do Pacífico, o comandante do Makura me deu a ler uma carta que recebera de Honolulu, contendo a narrativa de um dos mais singulares episódios, de caráter mediúnico, de que já tive notícía ... Neste momento, os fatos aí expostos estão sendo investigados a fundo por eminente arqueólogo e é provável que venham a ser publicados com todas as mlnúcias. Não posso, porém, resistir ao desejo de lhes comunicar o intróito.

          Numa das ilhas Haway vive uma senhora inglesa, mãe de numerosa prole, Mrs. B., cujo avô foi missionário neste arquipélago. Pois bem: desde alguns anos, recebe ela estranhas mensagens mediúnicas de defuntos que viveram em países distantes e em época muite remota. Recentemente, teve ocasião de viajar com o marido no Makura, cujo comandante, tendo sabido qualquer coisa acerca de suas faculdades "psíquicas", lhe pediu o favor de fazê-Io assistir a alguma experiência do gênero. Ela aquiesceu, sentou-se à mesa, tomou da pena e ficou, sem maior concentração de pensamento, à espera de que alguma entidade lhe impulsionasse a mão, tal qual o faria um telegrafista que se dispusesse a receber um telegrama. Ao cabo de algum tempo, exclamou: "Que pena! Quem se apresenta é o oriental que escreve lá a seu modo!" Ao que parece, noutras ocasiões recentes, ela assistira ao fenômeno de sua mão escrever singulares hieróglifos, em que predominavam as linhas retas e que vagamente lembravam certos escritos orientais. Dessa vez, escreveu durante cerca de vinte minutos e, mal se deteve, a senhora B. entregou o documento ao comandante que se propôs desvendar o mistério, submetendo-o à análise de algum orientalista. Passados poucos dias, mostrou-o a dois indianos vindos a negócio às ilhas Fidji, os quais, porém, nada compreenderam do que ali estava. Cientificada desse insucesso pelo comandante, a senhora B., pesarosa, exclamou: "E', eu bem devia imaginar que nada de sério podia haver naqueles arabescos." Eis, no entanto, que, em Novembro último, embarcou no Makura o professor G., um dos mais eminentes arqueólogos do mundo, e O comandante, aproveitando a ocasião, lhe apresentou o documento de que se trata, guardando silêncio sobre suas origens. O professor olhou-o e logo prorrompeu em exclamações de espanto, ao mesmo tempo que perguntava ao comandante como se tornara senhor de tal escrito. Em resumo, é este o surpreendente veredicto da Ciência: o documento era um excelente exemplar de escrita "hierática", sendo esta a forma popular dos "hieróglifos" de que usavam os sacerdotes, forma que prevaleceu na Ásia Menor, cerca de 5000 anos antes da era cristã. Acrescentou o professor não haver no mundo mais do que uma dezena de orientalistas capazes de interpretar aquela escrita e que nenhum deles o seria de traçá-Ia no brevissimo tempo em que a traçou a Sra. B. Explicou em seguida que, na mensagem em apreço, a entidade que se comunicava, acima de tudo agradecia à Sra. B. o lhe ter concedido sua mão para escrever. Acentuava com certo espanto a diferença enorme na maneira por que hoje se viaja, em confronto com os tempos em que ele vivera, estabelecendo a esse propósito comparação entre uma viagem em dorso de camelo e uma num paquete como aquele, o que lhe sugeria considerações sobre a cena que no momento se desenrolava na câmara do comandante. Por fim, fornecia a este noticias relativas às condições do tempo e do mar

          A carta a que me referi ao principiar esta comunicação, dizendo que o comandante acabara de recebê-Ia, continha ulterior mensagem escrita do mesmo modo que a primeira. Vai ser enviada, para a respectiva interpretação, ao professor G., que ainda está ocupado em traduzir o primeiro documento, consultando os seus livros. Vi apenas o segundo e sei os nomes de todos os protagonistas. Os documentos são examinados com verdadeiro espirito cientiflco, cumprindo-me acrescentar que nenhuma das três pessoas que tiveram parte no caso é dada ao estudo do "psiquismo": nem o professor G., apenas homem de ciência; nem o comandante do Malmm, escocês natural da Nova Zelândia; nem a senhora B., que, mãe de numerosa prole, não quer de maneira alguma que a considerem médium. Seja como for, o que é certo é que ela jamais teve a menor ideia do que poderia ser a escrita "hierática". Assim sendo, como se explicará o fenômeno? Há em tudo isto alguma coisa que transcende a fantasia do mais audacioso dos romancistas. Semelhante fato parece infinitamente mais assombroso e dramático do que certos episódios narrados pelo próprio Rudyard Kipling. " Quanto a mim, declaro ser este o único fato mediúnico que me torna propenso a aceitar uma explicação espiritualistica para os fenômenos dessa espécie. Francamente: não logro descobrir escapatória alguma para os incrédulos. (Light, 1923, pág. 537.)

          Esse o relato de um jornalista redator do "Times" e, realmente, diante de um caso de tal natureza, não há e não pode haver "escapatórias" para os cépticos. Ele demonstra positivamente, baseado em fatos, sem contestação possível, a intervenção de uma entidade espiritual independente da médium, visto que, desta vez, não restaria aos cépticos, sequer, a possibilidade de agarrarem-se ao último recurso, representado pela hipótese da "memória ancestral", porquanto nenhum ousaria afirmar que, entre os antepassados da senhora B., se conte um indivíduo que tenha vivido há 5000 anos, aproximadamente, nos impérios da Ásia Menor, ou algum antepassado arqueológico, a tal ponto familiarizado com a escrita "hierática", que haja deixado atàvicamente impressa na subconsciência da médium um traço tão acentuado de tais conhecimentos, que a pusesse em condições de escrever com nitidez e em tempo excessivamente breve uma longa mensagem naquele gênero de escritura.

          Colocada a questão nestes termos, grato me é congratular-me com o narrador pelo bom senso de que deu prova, compreendendo de pronto que, em presença de tal fenômeno, não há "escapatórias" para os incrédulos.

          Isto posto, fácil é de compreender-se a sensação de contrariedade científica que se experimenta ao ter-se de reconhecer que o episódio referido, embora se apresente com todas as características dos fatos genuínos, não pode ser utilizado para a indagação das causas, porque o relator se absteve de publicar os nomes dos protagonistas, limitando-se a designar a localidade e o paquete. Admite-se que ele não se sentisse autorizado a fazê-Io, por não querer a senhora B. ser tida como médium e por não desejarem o professor e o comandante que seus nomes viessem a público, ligados a um portentoso fenômeno mediúnico, arriscando-os a cómprometer seus interesses profissionais. Tudo isso se pode admitir e mesmo reconhecer como boas e indubitàvelmente legítimas essas razões, aliás frequentes nas narrativas de fenômenos congêneres. Mas, nada disso impede que, as mais das vezes, elas tragam como consequência tirar todo valor científico aos fatos narrados. Este o caso, no tocante ao magnffico episódio que acabo de reproduzir. Por felicidade, como se verá, outros episódios existem, análogos em tudo a esse, que se apresentam autenticados por toda a documentação que se possa exigir para inclui-I os numa classificação científica.

Veja também "Ernesto Bozzano" - Explicação do Fenômeno Xenoglossia.

 

Autor: Ernesto Bozzano
Fonte: Xenoglossia (Página 63)
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