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Vade Mecum Espírita

O Grande Enigma


XIV
 
ELEVAÇÃO
 
Espírito, Alma, tu que percorres estas páginas, donde vens e para onde vais? Sobes do fundo do abismo e galgas os degraus inumeráveis da escada da vida. Tu caminhas para as moradas eternas, onde a grande Lei nos chama e para as quais a mão de Deus nos conduz. Vais para a Luz, para a Sabedoria, para a Beleza!
Contempla e medita! Por toda parte, obras belas e potentes solicitam tua atenção. Em seu estudo, hau­rirás, com coragem e confiança, o justo sentimento do teu valor e do teu futuro. Os homens só se odeiam, só se desprezam, porque ignoram a ordem magnífica pela qual estão todos estreitamente aproximados.
Teu caminho é imenso; mas o fim excede em esplendor tudo quanto podes conceber. Agora pare­ces bem pequeno no meio do colossal Universo; mas, tu és grande pelo pensamento, grande por teus des­tinos imortais.
Trabalha, ama e ora! Cultiva tua inteligência e teu coração! Desenvolve tua consciência; torna-a mais vasta, mais sensível. Cada vida é um cadinho fe­cundo, de onde deves sair purificado, pronto para as missões futuras, maduro para tarefas sempre mais nobres e maiores. Assim, de esfera em esfera, de círculo em círculo, prosseguirás em tua carreira, adquirindo forças e qualidades novas, unido aos se­res que amaste, que vivem e reviverão contigo.
Evolverás em comum, na espiral das existências, no seio de maravilhas insuspeitadas, porque o Uni­verso, e assim tudo, se desenvolve pelo trabalho e expande suas metamorfoses vivas, oferecendo gozos, satisfações sempre crescentes, sempre renovadas, às inspirações, aos puros desejos do Espírito!
Nas horas de hesitação, volta-te para a Natureza: é a grande inspiradora, o templo augusto em que, sob véus misteriosos, o Deus escolhido fala ao cora­ção do prudente, ao Espírito do pensador. Observa o firmamento profundo: os astros que o povoam são os estádios de tua longa peregrinação, as estações da grande via a que teu destino te conduz.
Vem! elevemos nossas Almas; paira um instante comigo, pelo pensamento, entre os sóis e os mundos! Mais alto, sempre mais alto, no éter insondável! Lá embaixo, a Terra não é mais que um ponto na vasta extensão. Diante de nós e acima de nós, os astros se multiplicam. Por toda parte, esferas de ouro, fogos de esmeraldas, de safira, de ametista e de turquesa descrevem seus movimentos ritmados. Em nossos rumos, voga astro enorme, arrastando uma centena de mundos planetários em sua órbita, centenas de mundos que evolucionam em curvas sábias. Apenas en­trevisto, ei-Io que já foge, continuando a carreira com o seu esplêndido cortejo (28). Depois dele, apresen­tam-se dez sóis, de cores diferentes, grupados na mesma atmosfera luminosa que os cerca, como que a formar uma faixa de glória.
    E sempre os sistemas sucedem aos sistemas, paraísos ou galés flutuantes, mundos magníficos, vestidos de azul, de ouro e de luz. Mais longe, os cometas errantes, as pálidas nebulosas das quais cada átomo é um sol no berço (29). Sabe de uma coisa: todos esses mundos são as moradas de outras sociedades de Almas. Até pelas longínquas estrelas, cujos alvores trêmulos levam centenas de séculos a chegar ao nosso orbe, por toda parte, a família hu­mana estende seu império; por toda parte temos irmãos celestes. Somos destinados a conhecer todas essas moradas e a gozá-Ias. Reviveremos nessas terras do Espaço, em corpos novos, a fim de aí adqui­rir forças, conhecimentos, méritos maiores, e nos elevarmos ainda mais alto em nossa perpétua viagem.
    Tantos mundos quantas escolas para a Alma, quantos campos de evolução para cultivar o nosso entendimento e, ao mesmo tempo, para construir organismos fluídicos cada vez mais delicados, puri­ficados, brilhantes. Depois das lutas, dos tormentos, dos reveses de mil existências árduas, depois das provações e das dores dos ciclos planetários, virão os séculos de felicidade, nesses astros felizes, cujas claridades projetam sobre nós raios de paz e de ale­gria. Em seguida, as missões benditas, os novos apostolados, a tarefa invejável de provocar o estímulo, o desabrochar das Almas adormecidas, de auxiliar, por nossa vez, nossos irmãos mais moços em suas peregrinações através das regiões materiais.
Enfim, atingiremos as sublimes profundezas, o céu de êxtase, onde vibra, mais poderoso, mais me­lódico, o pensamento divino, onde o tempo e a dis­tância se anulam, onde a luz e o amor unem as suas irradiações, onde a Causa das causas, em sua fecundidade incessante, concebe para todo o sempre a vida eterna e a eterna beleza!
Em nossos dias, o céu não pode ser o que foi tanto tempo para a ciência humana, isto é, um es­paço vazio, triste e deserto. O Infinito se transfor­ma e se anima. O círculo de nossa vida se alarga em todos os sentidos. Sentimo-nos ligados a esse Uni­verso por mil laços. Sua vida é a nossa; sua história é nossa história. Fontes desconhecidas de meditação, de sensação, se abrem; o futuro toma aos nossos olhos caráter muitíssimo diferente. Uma impressão profunda nos invade, ao pensar em destinos tão am­plos. Para sempre somos unidos a tudo que vive, ama e sofre. De todos os pontos do Espaço, de todos esses astros que brilham na extensão, partem vozes que nos chamam, as vozes dos nossos irmãos mais velhos; e essas vozes nos dizem: "Marcha, marcha, eleva-te pelo trabalho; faze o bem; cumpre o teu dever. Vem a nós outros que, iguais a ti, pensamos, lutamos e sofremos nesses mundos da Matéria. Vem prosseguir conosco tua ascensão para Deus!"
Dos espaços majestosos, baixemos nossos olha­res para a Terra. Apesar de suas proporções mo­destas, ela tem, sabemo-Io, seus encantos, sua be­leza. Cada sítio tem sua poesia, cada paisagem sua expressão, cada vale seu sentido particular. A va­riedade é tão grande nos prados do nosso mundo quanto nos campos estrelados. O verão é o sorriso de Deus! Nada mais suave, mais inebriante do que a apoteose de um belo dia em que tudo é carícia, doçura, luz. A florinha escondida na relva, o peixe que se esgueira entre as águas, fazendo espelhar ao sol suas escamas de prata, o pássaro que modula suas notas do alto das ramadas, o murmúrio das fontes, a canção misteriosa dos álamos e dos olmei­ros, o perfume selvagem dos musgos, tudo isso aca­lenta o pensamento, regozija o coração. Longe das cidades, encontra-se a calma profunda que penetra a Alma, separando-a das lutas e das decepções da vida. Só e então se compreende a verdade destas grandes palavras: "O ruído é dos homens, o silêncio é de Deus!"
A contemplação e a meditação provocam o des­pertar das faculdades psíquicas e, por elas, todo um mundo invisível se abre à nossa percepção. Ensaiei, no correr desta obra, exprimir as sensações experi­mentadas do alto dos cimos ou à borda dos mares, descrever o encanto dos crepúsculos e das auroras; a serenidade dos campos, sob o real esplendor do Sol, o prodigioso poema das noites estreladas, a su­blimidade dos luares, o enigma das águas e dos bosques. Há momentos de êxtase em que a Alma se transporta fora do seu invólucro e abraça o Infinito; horas de intuição e entusiasmo em que o influxo divino nos invade qual uma onda irresistível, em que o pensamento supremo vibra e palpita em nosso ín­timo, onde brilha, por um instante, a centelha do gênio. Essas horas inolvidáveis, eu as vivi algumas vezes e, em cada uma delas, acreditei na visita, na penetração do Espírito. Devo-Ihes a inspiração de minhas mais belas páginas e de meus melhores dis­cursos.
Aquele que se recolhe no silêncio e na solidão, diante dos espetáculos do mar ou das montanhas, sente nascer, subir, crescer em si mesmo imagens, pensamentos, harmonias que o arrebatam, encantam e consolam das terrestres misérias, e lhe abrem as perspectivas da vida superior. Compreende então que o pensamento de Deus nos envolve e nos penetra quando, longe das torpezas sociais, sabemos abrir­-lhe nossas almas e nossos corações.
*
 
    Certamente poderiam fazer-nos muitas objeções. Por exemplo, dizerem-nos: "Fazeis sobressair os encantos da Natureza, mas não nos mostrais a sua feal­dade. Ela não tem somente sorrisos e carícias; pos­sui também revoltas, cóleras, furores·. Não falais dos monstros, nem dos flagelos que se lhe deparam. Que utilidade achais na existência dos animais fe­rozes, dos reptis, das plantas venenosas? Por que as convulsões do solo, as catástrofes, as epidemias, todos os males que geram o sofrimento humano?"
Ser-nos-á fácil responder. O belo, diremos, ne­cessita dos contrastes. Todos os artistas, pensadores, escritores de valor, o sabem. E quando verificamos que, no conjunto dos mundos, a Terra ocupa um lugar inferior, e é, antes de tudo, para os Espíritos moços, uma escola, uma pousada de lutas, de provação e, às vezes, de reparação, como admirar-nos de que não seja dotada de todas as vantagens que possuem os mundos superiores?
Os perigos, os obstáculos e as dificuldades de toda espécie são fatores essenciais ao progresso, outros tantos aguilhões que estimulam o homem em 'seu caminhar, outras tantas causas que o constrangem a observar, a adquirir engenho, a tornar-se previdente, comedido em seus atos. É na alternativa forçada do prazer e da dor que está o princípio da educação das Almas. Daí a necessidade para os seres, desde os mais rudimentares até os mais desenvolvidos, de lutar e de sofrer. O progresso não poderia realizar-se sem o equilíbrio indispensável dos sentimentos opos­tos, gozos e penas que se alternam no ritmo gran­dioso da vida. Mas é principalmente a dor, física e moral, que forma a nossa experiência: a sabedoria humana é o seu prêmio.
Quanto aos movimentos sísmicos, às tempesta­des, às inundações, notemos que têm suas leis. Essas leis, basta conhecê-Ias, para se Ihes prever e ate­nuar os efeitos. Quando se estudam os fenômenos da Natureza e o pensamento penetra no fundo das coisas, reconhece-se isto: o que é um mal, na apa­rência, se torna, em realidade, um bem (30). A gran­deza do espírito humano consiste em elevar-se da confusão, do caos das contingências à concepção da ordem geral. Ele pode então sentir-se em segu­rança no meio dos perigos do mundo, porque com­preendeu as grandes leis que, à custa de alguns acidentes, asseguram o equilíbrio da vida e a salva­ção das raças humanas.
O homem em quem o sentido profundo, o sentido das coisas divinas ainda não despertou, o céptico, em uma palavra, quaisquer que sejam sua inteligên­cia e seu saber em outras matérias, recusa-se a admi­tir estas coisas. Seria tão supérfluo insistir, quanto explicar a um cego de nascença as cores do Sol e das auroras, os jogos da luz sobre as águas ou sobre as geleiras. Ser-Ihe-ão necessários choques da adver­sidade, o concurso das circunstâncias dolorosas, que o colocarão em contacto direto com o seu destino e lhe farão sentir, juntamente com a utilidade dos sofrimentos, essas noções de sacrifício e de espe­rança pelas quais a vida toma seu sentido real e elevado.
Somente, então, poderá penetrar o grande mis­tério do Universo, e compreender que tudo tem sua razão de ser, que a dor tem seu papel, e que podemos tirar proveito de tudo, da provação, da moléstia e da própria morte, porque tudo, segundo o uso que fa­zemos, pode concorrer para o nosso adiantamento, para o nosso melhoramento moral. Desde então, a confiança e a fé o ajudarão a suportar pacientemente o inevitável, a abolir a desventura presente, a sofrer em paz. O conhecimento da Lei lhe dá a certeza de melhores dias e de um futuro sem-fim.
A partir desse dia, sua vida, tão obscura, tão vulgar, incolor que é, iluminar-se-á de um raio de luze de poesia, porque a poesia mais verdadeira é feita da ressonância íntima da sinfonia eterna e do acordo de nossos pensamentos, de nossos senti­mentos e de nossos atos com a pauta de nosso des­tino.
 
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Falando qual o fizemos no correr destas páginas, seremos, sem dúvida, acusado de misticismo por mais de uma vez. Mas, todos aqueles cuja sensibilidade e juízo despertaram, que se desenvolveram sob a ação das provações e das lutas da existência, saberão compreender-nos.
Certos espíritos terra-a-terra são inclinados a acoimar de místicos, de alucinados, de visionários, todos aqueles cujas percepções excedem o circuito limitado de seus pensamentos habituais. Supõem-se espíritos muito positivos e muito práticos, ao passo que, na realidade, as almas evolvidas, libertas dos preconceitos e das paixões, desdenhosas dos peque­nos interesses materiais, têm, somente elas, a in­tuição das grandes -e altas realidades da vida.
Em resumo, a Natureza e a Alma são irmãs, com esta diferença: uma evolve invariavelmente, segundo um plano estabelecido, e a outra, por si mesma, esboça, em uma página em branco, as grandes li­nhas do seu destino. São irmãs, porque provêm am­bas da mesma causa eterna e estão unidas por milhares de laços .. t= o que explica o império da Na­tureza sobre os seres. A Natureza atua sobre as Almas sensíveis qual o magnetizador sobre o seu paciente, provocando o desligamento do Espírito de sua crisálida de carne. Então, na plenitude de faculda­des psíquicas, a Alma percebe um mundo superior e divino que escapa maior parte das inteligências.
Nunca esqueçamos isto: Tudo que cai sob os sentidos físicos, tudo que é do domínio material, é transitório, submetido à lei da destruição, à morte. As realidades profundas, eternas, pertencem ao mun­do das causas, ao domínio do invisível. Nós próprios pertencemos a esse mundo, pela parte imperecível de nosso ser.
Eis que, pouco a pouco, a experimentação psí­quica e as descobertas dela decorrentes se propagam e se estendem. O conhecimento do duplo fluídico do homem, sua ação a distância, antes e depois da mor­te, a aplicação das forças magnéticas, a manifesta­ção das potências invisíveis, vêm demonstrar a todo observador atento que o mundo dos sentidos é uma pobre e obscura prisão, comparada ao domínio imen­so e radioso aberto ao Espírito. (31)
Os sentidos interiores e as faculdades profundas da Alma dormitam ainda na maior parte dos homens que ignoram suas riquezas escondidas, seus poderes latentes. Éessa a razão pela qual seus atos se res­sentem de falta de base, de ponto de apoio. Daí, tantas fraquezas e desfalecimentos. Mas, a hora do despertar está próxima. O homem aprende 3 conhe­cer sua Alma, a extensão de seus poderíeis, de' seus atributos; desde logo a separação e a morte deixarão de existir para ele; a maior parte das misérias que nos assediam desaparecerão, nossos amigos do Espaço virão mais facilmente nos visitar, corresponder conosco. Uma comunhão íntima se estabelecerá entre o Céu e a Terra, e a Humanidade entrará em fase mais alta e mais bela de seus gloriosos destinos.
*
 
Com a vista enfraquecida pelo trabalho, lanço ainda um olhar sobre esses céus que me atraem e sobre essa Natureza que' eu amo. Saúdo os mun­dos que serão mais tarde nossa recompensa: Júpiter, Sirius, Órion, as Plêiades e essas miríades de focos, cujos raios trêmulos têm tantas vezes vertido em mi­nha Alma ansiosa a paz serena e as inefáveis con­solações.
 Em seguida, do Espaço, lanço meu olhar para esta Terra que foi meu berço e será meu túmulo. Ó Terra, planeta, nossa mãe, campo de nossos la­bores e de nossos progressos, onde, lentamente, através da obscuridade das idades, minha consciên­cia desabrocha com a consciência da Humanidade tu flutuas no Infinito, acalentada pelos eflúvios divinos; derramas em volta de ti as vibrações potentes da vida que se agita em teu seio. Dir-se-ia uma har­monia confusa, feita de rumores e de vagidos, uma harmonia que sobe do meio dos mares e dos conti­nentes, dos vales e das florestas, dos rios e dos bos­ques, e à qual se mistura a queixa humana: murmúrio das paixões, vozes de dor, ruídos de trabalho e cân­ticos de festa, gritos de furor e choques de exércitos. As vezes, também notas calmas e graves dominam esses rumores; a melodia humana substitui as harmo­nias da Natureza e o ruído das forças em ação; o cântico da Alma, liberta das servidões inferiores, saú­da a luz. Um cântico de esperança sobe para Deus em hosana, numa prece.
É tua alma, ó Terra! que desperta e faz esforços para sair de obscura ganga, para misturar sua irra­diação e sua voz às irradiações e às harmonias dos mundos siderais. É tua alma que canta à alba renas­cente da Humanidade, porque esta desperta a seu turno, sai da noite material, do abismo de suas origens. A alma da Humanidade, que é a da Terra, bus­ca-se, aprende a conhecer-se, a penetrar sua razão de ser; pressente seus grandes destinos, quer reali­zá-Ios.
Prossegue tua carreira, Terra que eu amo! Muitas vezes, já, meu Espírito sorveu em teus elementos as formas necessárias à sua evolução. Durante séculos, ignorante e bárbaro, percorri teus caminhos, tuas flo­restas, voguei sobre teus oceanos, nada sabendo das coisas essenciais, nem do fim a atingir.
Mas, eis que, chegando ao entardecer da vida, a essa hora crepuscular em que uma nova tarefa se acaba, em que as sombras se elevam à vontade e cobrem todas as coisas com seu véu melancólico, considero o caminho percorrido; em seguida, dirijo meus olhares para diante, para a clareira que se vai abrir para mim no Além e para suas claridades eternas.
A esta hora, em que minha Alma se separa, pou­co a pouco, de teus liames, ó Terra, e se prepara para te deixar -, ela compreende o fim e a lei da vida. Consciente do teu papel e do meu, reconhecido a teus benefícios, sabendo por que existo, por que' ajo e como é preciso agir, eu te bendigo, ó Terra, por todos os gozos e por todas as dores, pelas provações salutares que me proporcionaste, porque, em tudo que te devo - sensações, emoções, prazeres, sofri­mentos -, reconheço os instrumentos de minha edu­cação, de minha elevação. Eu te bendigo e te amo, feliz, quando te deixar, pelo pensamento de voltar mais tarde, em nova existência, para trabalhar ainda, para sofrer, para me aperfeiçoar contigo, contribuin­do, por meus esforços, para o teu progresso e o de meus irmãos, que são também teus filhos.
(28) As estrelas, cujo afastamento faz que se pareçam imó­veis movem-se em todos os sentidos, em virtude de leis pouco conhecidas. Movimentos formidáveis arrastam cada foco sideral no turbilhão do Infinito. Nosso sistema solar voa com grande velocidade para a constelação de Hércules, e vence em 650 séculos uma distância igual à que nos separa da estrela Alfa do Cen­tauro. Nosso astro central é um dos mais modestos sóis: Canopo o excede de mais de 10.000 vezes em brilho, Arcturo de 8.000. Visto de sua superfície, nosso ofuscante foco seria um ponto im­perceptível.
(29) Segundo as observações telescópicas e a fotografia ce­leste, a Ciência estabelece que nosso universo se compõe de um milhar de milhão de estrelas. Camille Flammarion crê que este universo não é único. Nada prova, diz ele, que esse bilhão exista só no Infinito e que, por exemplo, não haja um segundo, um terceiro, um quarto e cem e mil universos semelhantes aos outros. Esses universos podem ser separados por espaços absolutamente vazios, desprovidos de éter e, por conseqüência, invisíveis uns dos outros. Parece até que conhecemos já algumas das estrelas que não pertencem ao nosso universo sideral. Podemos citar, por exem­plo, com Newcomb, a estrela 1.830 do catálogo de Groombridge, a mais rápida, cujo movimento foi determinado. Este foi avaliado em 320.000 metros por segundo, e a força atrativa de nosso universo inteiro não pode ter determinado tal velocidade. Segundo todas as probabilidades, essa estrela vem de fora e atravessa nosso uni­verso qual um projétil. O mesmo se pode dizer da de número 9.352 do catálogo de Lacaille, e mesmo de Arturu, a quarta em grandeza das estrelas visíveis e de Mu de Cassiopéia (conferência de agosto de 1906).
Acrescentamos que as potências da Natureza são sem limite na extensão e na duração. A luz, que percorre 300.000 quilômetros por segundo, leva 200 séculos a atravessar a Via - Láctea, formigueiro de estrelas do qual fazemos parte. Essas famílias ou ne­bulosas são inúmeras, e todos os dias se descobrem novas, por exemplo, a segunda de Órion, cuja extensão terrifica a imaginação. Vivemos no seio de um absoluto sem limites, sem começo e sem fim.
Ver, também, para pormenores, a nota complementar nº 3, no fim deste livro
(30) Vide Depois da Morte cap.IX
(31) Vide Cristianismo e Espiritismo, Provas Experimentais da Sobrevivência; No Invisível e O Problema do Ser, do Destino e da Dor.
Autor: Léon Denis
Fonte: O Grande Enigma
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